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terça-feira, 7 de março de 2017

Não explicando o inexplicável

Mais uma vez escrito por Fronza Irmão.

Hey baby, tenho pensado em ti – e te parafraseando - mais do que gostaria e do que deveria, mas conclui que, infelizmente, eu não tenho a fórmula para te conquistar. Nenhum de nós veio com manual e, aliás, mesmo que viesse, eu o rasgaria e improvisaria tudo ao meu jeito, ao nosso jeito, pois não sou dos mais metódicos e sou bem menos pragmático do que gostaria de ser. Se fosse pensar em linha reta e racionalmente eu simplesmente te esqueceria, ignoraria sua presença, transferiria o que sinto por você para qualquer outro rostinho bonito que nos cerca todos os dias. Mas como fazer isso se cada vez que te vejo te acho mais linda e tenho mais e mais vontade de ficar fitando os seus olhos, de ficar falando bobagens só pra ver você sorrir e de dar um daqueles raros beijos que não vem da boca? Um dia comprei um manual do amor e resolvi coloca-lo em prática.
Fiz um check list com uma ex-namorada. A cada passo conquistado marcava um X na lista: “flores”, “jantar fora”, “dizer que a ama”, “trocar de posição na cama”, etc. Eu fazia tudo o que o manual mandava e nada dava certo e quanto mais eu seguia o manual, menos parecia que ela gostava de mim. Até que um dia tomei um porre, rasguei o manual, dei o check list pro cachorro comer enrolado em um resto de bife e nadei pelado na piscina a noite inteira (ok, não sou como aquele sobre a qual conversamos, nunca narrei esse episódio em público, a não ser aqui, agora, nesse espaço). No outro dia acordei com uma puta ressaca e ela me ligou. Parei de fazer as coisas do manual e começamos a nos dar bem, até que, um bom tempo depois, percebemos que éramos completamente diferentes um do outro: foi bom enquanto durou, bola pra frente. Depois dela vieram outras, mas com quase todas eu primeiro ficava e depois tentava me apaixonar, às vezes com êxito, às vezes sem. Nem preciso dizer que todos esses relacionamentos – de semanas ou anos – deram certo apenas enquanto duraram, obviamente. E, nos poucos em que me apaixonei antes de acontecer o restante, o negócio todo foi muito bom, afinal, não há por que mentir. Por que acabou? Sei lá, se até a nossa vida acaba sem termos explicação, vou eu saber por que diabos um relacionamento acaba... Será prazo de validade? Serão erros inesperados? Será a tentativa de nos fecharmos em jaulas e querer que o outro fique enjaulado com a gente sem contato com o mundo exterior? Será a falta de parceria? Não sei. Só sei que nunca gostei de ficar enjaulado. Nunca gostei de ficar preso. O mundo é muito grande para um leão ficar enjaulado em um zoológico para deleite dos humanos, então por que nós, humanos, insistimos em enjaular animais em zoológicos e pessoas em relacionamentos claustrofóbicos? Também não sei. Deve ter algum manual de relacionamento com respostas para todas essas perguntas no Mr. Google... Eles são tão eficientes quanto a tentativa de usar uma moto para cruzar o oceano. Não mudei de parágrafo. Os manuais de português mandariam fazer isso. Minha professora de redação da escola ficaria louca e descontaria nota. Meu professor da universidade diria que não é assim e mandaria fazer de novo. Meus orientadores diriam que fica “mais bonito e agradaria a banca colocar um parágrafo aqui...”. Meu editor daria um “enter” no meio dessas palavras porque o leitor moderno não gosta de parágrafos longos. Foda-se. Se o editor do Kerouac fez isso com ele nos anos 1950, imagina o que não fariam comigo no século XXI. Desgraçados. Mas e o amor? Faz pelo menos dois milênios que a humanidade tenta descobrir o que é. Alguns querem UM amor eterno (romanticamente falando) e outros VÁRIOS. Eu, sinceramente (mil desculpas por isso, mas é a resposta mais sincera que posso dar) não faço ideia se quero um, vários e, sequer sei se já tive algum ou mais de um, se terei ou nunca terei. Por isso, não sei nem o que é que sinto por você. Posso descrever esse sentimento minuciosamente: quando te vejo meu coração acelera, meus olhos se arregalam, um friozinho toma conta da minha barriga, a boca fica levemente seca, então, respiro fundo e tento agir como se nada estivesse acontecendo e, aos poucos, vou me soltando com o seu sorriso, que faz com que eu queira falar mais e saber mais sobre você e, quando me flagro olhando para os seus lábios eu penso em como seria bom experimentá-los para saber que gosto tem...
Será de uva? De framboesa? De chocolate? De maracujá? De paixão? De morango? Não sei e só vou saber se algum dia experimentá-los... Mas, independentemente do sabor que eles tenham eu já adianto: a minha vontade de te beijar é proporcionalmente igual a incerteza que eu tenho em relação a tudo. E em relação a como chamar tudo isso. Alguns chamam de loucura, outros de desejo, outros de paixão, outros de insanidade e os mais céticos de burrice. Alguém até poderia dizer que é amor (algum cantor sertanejo brega), mas eu não sei tão claramente o que é amor para falar qualquer coisa afirmativa sobre isso – deixo isso para os músicos dos botecos. Portanto, como sei que você não precisa de amor (no sentido utópico do termo), sinto-me mais aliviado, pois o que tenho a te oferecer é isso: uma avalanche de sentimentos que só vai fazer você se sentir mais confusa do que já está. E, se balançarmos como um boxeador nocauteado, abraçamo-nos para, juntos, não cair. Pelo menos até o primeiro porre que tomarmos juntos, afinal, somos parceiros até pra isso, não somos?

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