Poucos eleitos
Eu sempre li pra caralho (depois dos 15). Adoro Shakespeare, Cervantes, Borges, Machado de Assis, Erico Verissimo e uma porrada de caras que fazem o melhor humor da humanidade praticamente sem usar um palavrão. Esses caras são gênios inigualáveis. Mas também gosto das putarias de Bukowski e Gutierrez e curto a drogadição (como diria minha mãe) do Hunter Thompson. Em comum, eles escrevem com sinceridade, mesmo quando fazem textos da mais fantástica ficção: Dom Quixote de Cervantes é o melhor exemplo disso – uma puta narrativa de pura honestidade autoral.
Mas, sem mais delongas, indo direto ao ponto, o fato é que para quem não gosta de ler ou de curtir a arte como ela é, os clichês e o imaginário imposto pelos outros é o que prevalece. E, lendo O insaciável homem-aranha, de Pedro Juan Gutierrez, me deparo com o texto “Uns poucos eleitos”, que é simplesmente magnífico, pois o autor cai de paraquedas em uma confusão conjugal, e a sujeita acaba se decepcionando com o escritor, pois ela achava que todo o artista e escritor fosse um ser extremamente educado, tipo um príncipe de um conto de fadas de Walt Disney. Bom, chega de tentar explicar o que pode ser percebido no texto:
“De novo começaram os soluços:
- Ah, não me fale assim. Eu cometi bigamia. E com um homem que fala como um... que age como um...
- Como um o quê? Fale!
- Como um carroceiro. Nunca pensei... Ah...
- Nunca pensou o quê?
- Lucio nos disse que você era um artista, escritor, um homem culto. Me disse que... ah... você é muito vulgar. Não consigo acreditar.
Soltei todo o ar que tinha dentro de mim. Juntei forças e disse para ela:
- Relaxe e vamos para a cama de novo. Apague tudo o que foi feito. Começamos do zero”.
E é isso. Está tudo dito aí e no restante do texto. Eu já fui panfleteiro na Otávio Rocha, em Porto Alegre, quando morava com meu tio Dãe em um bar na cidade baixa (foto). Já disputei o metro quadrado com o pessoal do “compro oro!” e do “CD! DVD! CD! DVD!”. Inclusive, com o pessoal da pedra. Portanto, sei que o fato de escrever e ler pacaraí não quer dizer grande coisa para quem espera luxo, status e dinheiro da literatura e da arte...
Enfim, ao ler esse texto do Pedro Juan, senti-me na obrigação de comentar a porra toda. Pois, bem como ele, talvez eu seja um dos “poucos eleitos”, expressão que dá título ao capítulo do livro, bem como, a esse texto sem muita significância. E que alguns poucos eleitos entenderão...
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