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quinta-feira, 16 de junho de 2016

O Boi Bandido e o Vadio



“Olha lá o Boi Bandido! Êta, o Boi Bandido, não acerta uma!!!”. “Ó o Vadio, ó. É uma bailarina obesa! Esse nunca vai se machucar na carreira, não divide uma!! É um Vadio, mesmo!!”. Eis a apresentação da dupla de meias do Grêmio feita na arquibancada dos visitantes da Arena Conda por um cômico torcedor tricolor. Passei o segundo tempo inteiro do jogo Chapecoense 3x3 Grêmio, pela oitava rodada do Campeonato Brasileiro, ouvindo o tal torcedor xingar o Boi Bandido (Giuliano) e o Vadio (Douglas). Essa foi a definição mais coerente sobre o setor “criativo” do meio campo do Grêmio de 2016.
O Boi Bandido é um bovino considerado mito em rodeios, pois nenhum peão consegue ficar mais de oito segundos em seu lombo. E, bem como o bicho, o Giuliano também se meche e corre feito um boi, mas sem ter uma lógica em seus movimentos. É um touro musculoso, mas desgovernado. E, assim, ele corre de um lado para o outro, mas errando passes, cometendo faltas, chutando bolas que teriam como objetivo acertar o gol, mas que saem pela linha lateral....
Já o Douglas... bem, acho desnecessário explicar porque o tal torcedor o chama de Vadio. Como um legítimo veterano, ele se encolhe para não dividir em uma disputa de bola aérea e, quando recebe a bola, toca apenas de primeira. Sinceramente, não precisa fazer muito para enganar a alguns torcedores mais ingênuos. Basta se fingir de craque ao acertar um ou dois passes (em oito ou nove tentados) durante um jogo. But, todavia, contudo, tem gente que ainda cai nesse conto...
Desde 2012 eu não ia a um estádio de futebol para assistir a um time de Série A do Brasileirão. Mas, dessa vez, devido a proximidade geográfica entre Frederico Westphalen (RS) e Chapecó (Sc) – 85 quilômetros -, convidei o meu amigo e colega Rafael Foletto para cruzarmos a fronteira para assistir ao tricolor na Arena Conda. E, assim que chegamos, o Grêmio fez 1 a 0 com o Geromel. O problema é que, da arquibancada dos visitantes, parte da torcida não consegue enxergar um dos gols. E, assim, não vimos os dois gols da Chapecoense no primeiro tempo. Já no segundo, fomos até o último degrau da arquibancada para poder ver o ataque gremista. No entanto, o Boi Bandido e o Vadio geralmente frustravam nossas esperanças. Ainda mais tendo como companheiro ofensivo Luan, o Chachaceiro (na denominação feita pelo citado torcedor).
Foi interessante voltar a um estádio de futebol para ver um jogo de Série A para perceber que algumas coisas estão mudando lentamente no nosso futebol. Gostei de ver, na torcida da Chapecoense, crianças com a idade da minha filha (5 anos – vejam bem, CINCO não é uma indireta aos colorados, é apenas uma coincidência) correndo e brincando pelas arquibancadas. Também foi legal ver a torcida do Grêmio se comportando bem, apenas torcendo e xingando os seus próprios jogadores. Também acho, nesse sentido, a Chapecoense um exemplo, pois creio que nas capitais, essa situação é mais rara. Aliás, depois do jogo, fomos comer em um bar próximo ao estádio, e torcedores da Chapecoense e do Grêmio dividiam o mesmo espaço sem problemas. Talvez isso se justifique pelo fato de os dois terem feito CINCO no Inter, mas creio que não. Acredito que poderiam estar ali torcedores de outros clubes, devidamente identificados, que não haveria problema. No entanto, é difícil imaginar a mesma cena em cidades como Porto Alegre, São Paulo, Belo Horizonte ou até mesmo Curitiba. Assim, eu simpatizo muito com a Chapecoense e torço para que ela tenha vida longa na Série A. O resto do Brasil tem muito a aprender com os seus torcedores.
Quando a maior agressividade da torcida é chamar os seus próprios jogadores de Boi Bandido e Vadio, é porque estamos no caminho. Aliás, o referido torcedor ficou indignado ao ver a torcida aplaudindo o time: “Não acredito!!! Vão aplaudir a essa vadiada!!!”. E, na hora em que o Douglas foi atirar a camisa para a torcida, o sujeito quase enfartou. Não aguentei e fui consolá-lo: “Veja bem: se você pegar a camiseta do Douglas, pelo menos você não terá o trabalho de lavá-la, pois ela não está suada”. O coitado, que durante o jogo tinha dito que “eles jogam muito melhor quando o jogo é pela televisão”, não se conformou: “Vai te embora, vadio, cachaceiro!!!Vai lá, se abraça com o Boi Bandido numa garrafa de canha enquanto nós ficamos aqui, sofrendo!!”. Não adiantou as comovidas lamentações.
A inconformidade do torcedor foi abafada pelo clima tiete da maioria dos torcedores, que ovacionaram o Vadio, enquanto o Boi Bandido enaltecia o time após um empate movimentado no potreiro alheio... Não foi dessa vez que o peão ficou mais de oito segundos em seu lombo, afinal, o Boi Bandido fez o dele e caiu nas graças da torcida, mesmo sem jogar nada. E, assim, segue o baile no campeonato nacional da Terra do Nunca.

1 Comentários:

  • Pô cara tu vai ver jogo do teu time e não esquece do Inter! Isso é trauma. Vais ter que vir a Ijuí fazer um tratamento pecuarístico com Dr. Marcão pra curar isto. Deixa só eu terminar o consultório, digo casa, e daí tu vem, guri.

    Por Blogger Marcos, às 17 de junho de 2016 às 03:40  

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