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quarta-feira, 28 de outubro de 2015

O dia do brinquedo – versão universitária

Minha filha tem quatro anos. Faz cinco em poucos dias. Está no Jardim da Infância. O velho e bom Jardim. Na escolinha em que estuda, toda a sexta-feira é o Dia do Brinquedo. Nesse dia, cada um dos pequenos pode levar um brinquedo, qualquer um escolhido em casa, e pode carregá-lo para a escola para, durante uma hora, brincar livremente com ele. Ponto.
Outro dia a minha pequena levou um brinquedo em um dia que não era o Dia do Brinquedo. Era uma quarta-feira, dia de aula normal. Ela tinha afazeres na escolinha. Tinha que pintar, aprender os números, contar até dez em inglês, plantar pé de feijão no algodão, essas coisas. Mas, por descuido meu, ela levou um brinquedo. Quando eu fui buscá-la na escolinha, a professora disse que era para levar brinquedo apenas no Dia do Brinquedo. Ou seja, durante a tarde inteira o brinquedo ficou guardado na mochila, pois ele não seria útil para as atividades pedagógicas daquele dia. Ponto.
Chego, portanto, ao cerne desse texto. Professores universitários brasileiros têm quebrado a cabeça ao se deparar com um problema pedagógico contemporâneo: o uso livre da internet em sala de aula. Tenho duas considerações a fazer sobre isso.
Primeiro, a minha experiência nos Estados Unidos. Pelo que vi nas grandes universidades de Nova York, como New York University e Columbia, e também em outras do interior, como a Louisville University, esse é um problema resolvido. Em nenhuma das aulas/cursos que fiz nessas universidades os alunos tinham liberdade total para usar a internet. Aula é aula e ponto. Se alguma atividade pedagógica prevê o uso da internet em seu cronograma, tudo bem. Cheguei a ter um professor de inglês que exigia que cada aluno deixasse o celular em sua mesa ao sair da sala. O princípio é simples: se o sujeito está disposto a gastar o seu tempo (e dinheiro) com as aulas, então que as faça. Não tem diploma sem estudo. Não tem presença sem estar presente mentalmente. E isso em Manhattan, coração do mundo. O lugar de onde vem toda a tecnologia consumida de São Borja a Bagdá.
Mas, como somos brasileiros e, segundo o Galvão Bueno, somos diferenciados, nós sofremos com essa questão estúpida. Chego, então, à minha segunda consideração. Na verdade é uma proposta de solução. Aula é aula, certo? Então, que tal se fosse criado o dia do brinquedo universitário?
Toda a sexta-feira, os acadêmicos podem usar por meia hora a internet de maneira totalmente livre para ver cardápio do restaurante, para namorar no Facebook, para assistir vídeos idiotas, etc. Perfeito, não? Pois, se o brinquedo atrapalha o aprendizado da minha pequena que está querendo começar a se alfabetizar, os brinquedos online também atrapalham o aprendizado dessas criaturas que estão em um curso superior para ter uma profissão. Afinal, para aprender a usar o Facebook e postar fotos no Instagram, realmente, não é preciso diploma, concordam? E se os universitários gostam de se infantilizar, nada melhor do que infantilizar o tratamento que lhes é dado. Solução terceiro mundista. Pois no dito primeiro mundo, isso já está resolvido. Ponto.
Hasta la revolución!

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