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sábado, 19 de julho de 2014

Tributo a Hunter Thompson

* Texto que, se Deus, o editor e o dono do Jornal das Missões quiserem, será publicado na próxima semana no JM.

No início de julho, iniciei a minha viagem cross-country pelos Estados Unidos. Saí de San Diego, no extremo sul do país (divisa com o México), no lado oeste, e cheguei nessa semana, após 15 dias na estrada, em Nova York, no extremo norte da costa leste (perto do Canadá). São tantos pontos a serem falados e comentados, que creio que tudo caberá apenas em formato de livro. Portanto, para essa coluna, reservo um dos pontos altos da viagem: a minha passagem por Woody Creek, no estado do Colorado.
Como já comentei aqui, a minha tese de doutorado que estou fazendo pela PUCRS, com esse período de estágio doutoral na New York University, é sobre Jornalismo Literário - Jornalismo Gonzo. A obra de Hunter Thompson e a sua relação com a palavra grega parresía, a fala franca no espaço público em que o emissor assume riscos por assumir essa fala da verdade. Esse conceito foi trabalhado pelo filósofo francês Michel Foucault, e, na verdade, deveria ser a premissa básica da prática jornalística. Mas não é. E Hunter Thompson foi um dos poucos que praticou a parresía no campo jornalístico. Ponto.
Assim que cheguei no Colorado, passei por Aspen, a cidade aonde Hunter Thompson foi candidato a xerife nos anos 1970, com propostas como mudar o nome da cidade para "Fat City" (Cidade dos Gordos). A candidatura de um rebelde ousado chamou a atenção da mídia do país, que acompanhou a eleição na cidade que hoje conta com 6 mil habitantes. Naquele tempo, ele já pregava a legalização da maconha (que aconteceu esse ano no Colorado), mas perdeu por pouco (depois de ser ameaçado de morte, e tudo o mais - justamente por praticar a parresía, ou seja, a fala franca). Ele adotou a cidade vizinha, Woody Creek, que na verdade é um povoado, para viver o resto de sua vida. E foi na sua fazenda, chamada de Owl Farm, que ele escreveu as suas principais obras, como Hell's Angels e Medo e Delírio em Las Vegas. Ponto.
Depois de muito insistir (só essa história já vale um capítulo de livro) consegui agendar aos 45 do segundo tempo uma entrevista com Anita Thompson, a viúva de Hunter, que vive em Owl Farm. E lá, realizei esse sonho pessoal, acadêmico e profissional: vi a casa de Hunter por dentro, a sala em que ele escrevia suas obras, o local aonde ficava o monumento construído após a sua morte, e financiado por atores como Johny Deep (o monumento custava milhões)... Enfim, pude respirar um pouco do ar gonzo, além de ter uma tarde com uma conversa sensacional com Anita.
Aprendi muito com a obra de Thompson, e não precisa ser jornalista nem acadêmico para lê-la - pois a leitura é fácil e divertida. Por isso, indico a todos a leitura de seus textos, justamente na semana em que Hunter Thompson completaria 77 anos (ele morreu em 2005). Como ressaltou Anita Thompson, quando a gente lê a obra dele, sentimo-nos poderosos, com o força para mudar o mundo. E, é no que acredito, o mundo e o jornalismo estão precisando muito disso. Portanto, viva o Jornalismo Gonzo. E viva Hunter Thompson.

1 Comentários:

  • Viva o Jornalismo! Viva Thompson! Viva Eduardo Ritter que me prorciona neste texto também entrar na casa do jornalista e escritor tema do meu TCC.
    Obrigado. Mas agora asssumindo a fala franca que foi uma das características que me fez dispertar o interesse pelo Jornalismo Gonzo e pela vida de Humter Thompson, mattasse a pau aí professor!! Isso é inédito. E acho que com esse texto tu justifica todo investimsnto da uiversidade , todo tempo longe do Brasil, da família, dos amigos daqui, por que tenho certeza que fez muitos aí, e em fim... foi tudo muito proveitoso e valeu a pena. Teremos em breve muito material novo escrito por ti para enriquecer a literatura gonzo aqui no Brasil. Obrigado.

    Por Blogger Márcio, às 19 de julho de 2014 às 10:50  

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