Originalidade
Entretanto, também virou clichê falarem que “hoje isso aparece, antes era escondido”. Balela também. Hoje, se o Nelson Rodrigues ou o Nabokov fossem vivos publicassem seus textos em qualquer jornal de grande circulação no Brasil traria a mesma polêmica que décadas atrás. Hoje os jornais (e por conseqüência o resto) são bem comportados. Não se vê um texto polêmico em jornal nenhum em todo o território nacional. Um colunista de política de um grande jornal escreve uma palavra dúbia sobre alguém, e se julga um polemista. Na TV, um Maurício Saraiva fala “esse time do Grêmio tem limitações, mas pode vir a vencer, e o Inter tem um bom time, mas tem que se cuidar”, e todos acham que isso é polêmica! Batata! Por que não fala logo: “esse time do Grêmio é uma m... e esse Inter é enganação pura”? Na política, ocorre o mesmo. Lasier Martins aparece com sua cara de pastel na frente da câmara, levanta questões de nível de jardim de infância, e a família abestalhada gaúcha fica olhando para TV, murmurando, “esse cara é um gênio!”, ou, senão concordam: “é verdade”. Por que tanto medo de tomar partido? Por que tanta prudência? Um David Coimbra escreve uma crônica em que se tem uma jovem sedenta por sexo e todos ficam de boca-aberta: “óóóóóó, que ousadia!”. Jovens e velhos, escandalizam-se ingenuamente. Ah, falasério!
Cada vez que pego autores clássicos, como o próprio Nelson Rodrigues, ou senão Nabokov, Bukowski, Henry Muller, Hunter Thompson, etc, vejo que a nossa geração é a mais conservadora e infantil que já passou pela Terra.
O que está faltando é originalidade, e a Internet e as redes sociais não substituem isso. O que falta é filosofia na ousadia, como faziam esses autores. Falta conteúdo. Hoje, de fato, colocar um monte de crianças e adolescentes dançando seminus na TV nos domingos de tarde, ou colocar famílias de classe baixa fazendo barraco em rede nacional, isso sim, é um disparate contra a inteligência do telespectador. Isso sim é vulgaridade. Isso sim, deveria ser proibido, por mais anti-censura que eu venha a ser.
O que está faltando é inteligência. E uma boa dose de ousadia.
Um bom resto de semana a todos.
* Texto possivelmente publicado em A Tribuna Regional
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