.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Originalidade

Hoje virou clichê as pessoas falarem que a sociedade pós-moderna é liberal, que já não se tem mais a mesma noção de bons costumes e moral como se tinha antigamente, que hoje se pode falar de tudo e sobre tudo de qualquer jeito, tanto na Internet, quanto nos meios de comunicação mais tradicionais como rádio, TV e jornal e blá, blá, blá, blá. Balela. Primeiro, essa história de moral e bons costumes sempre foi uma farsa. Há milhares de histórias nelson rodriguianas acontecendo por aí todos os dais, desde que o mundo é mundo: homem tem filho fora do casamento, mulher engravida de outro e diz que é do marido, namorado mata namorada por ciúmes, namorada engravida para prender namorado, senhor de idade se envolve com garotinha, senhora de idade se envolve com garotinho, histórias de incesto (a bíblia está cheia delas), lesbianismo, homem com homem, mulher com mulher, prostituição, pamsexualismo, enfim, tudo isso sempre existiu desde que o mundo é mundo.
Entretanto, também virou clichê falarem que “hoje isso aparece, antes era escondido”. Balela também. Hoje, se o Nelson Rodrigues ou o Nabokov fossem vivos publicassem seus textos em qualquer jornal de grande circulação no Brasil traria a mesma polêmica que décadas atrás. Hoje os jornais (e por conseqüência o resto) são bem comportados. Não se vê um texto polêmico em jornal nenhum em todo o território nacional. Um colunista de política de um grande jornal escreve uma palavra dúbia sobre alguém, e se julga um polemista. Na TV, um Maurício Saraiva fala “esse time do Grêmio tem limitações, mas pode vir a vencer, e o Inter tem um bom time, mas tem que se cuidar”, e todos acham que isso é polêmica! Batata! Por que não fala logo: “esse time do Grêmio é uma m... e esse Inter é enganação pura”? Na política, ocorre o mesmo. Lasier Martins aparece com sua cara de pastel na frente da câmara, levanta questões de nível de jardim de infância, e a família abestalhada gaúcha fica olhando para TV, murmurando, “esse cara é um gênio!”, ou, senão concordam: “é verdade”. Por que tanto medo de tomar partido? Por que tanta prudência? Um David Coimbra escreve uma crônica em que se tem uma jovem sedenta por sexo e todos ficam de boca-aberta: “óóóóóó, que ousadia!”. Jovens e velhos, escandalizam-se ingenuamente. Ah, falasério!
Cada vez que pego autores clássicos, como o próprio Nelson Rodrigues, ou senão Nabokov, Bukowski, Henry Muller, Hunter Thompson, etc, vejo que a nossa geração é a mais conservadora e infantil que já passou pela Terra.
O que está faltando é originalidade, e a Internet e as redes sociais não substituem isso. O que falta é filosofia na ousadia, como faziam esses autores. Falta conteúdo. Hoje, de fato, colocar um monte de crianças e adolescentes dançando seminus na TV nos domingos de tarde, ou colocar famílias de classe baixa fazendo barraco em rede nacional, isso sim, é um disparate contra a inteligência do telespectador. Isso sim é vulgaridade. Isso sim, deveria ser proibido, por mais anti-censura que eu venha a ser.
O que está faltando é inteligência. E uma boa dose de ousadia.
Um bom resto de semana a todos.

* Texto possivelmente publicado em A Tribuna Regional

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home