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terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

É rindo que se aprende

Li dias atrás um livro que professores, pais, políticos, diretores, chefes, reitores, enfim, todos os adultos deveriam ler, que se chama justamente o título desse texto: é rindo que se aprende. Na verdade é a transcrição de uma entrevista feita por Gilberto Dimenstein com Marcelo Tas, aquele mesmo ex-professor Tibúrcio e atual CQC. O livro traz um DVD com a gravação da entrevista e tem um texto supertranquilo que você devora, no máximo, em dois dias. Já a gravação tem uma hora. Mas enfim, dizia eu que todos deveriam ler esse livro, pois ali o Marcelo Tas derruba toda a carrancurrice e rabugentice que, há muito, domina o mundo adulto. E o pior: o mundo adulto transmite o mesmo para as crianças através de pais e professores. Os exemplos são muitos.
Muitos pais, ao cobrar que o filho estude para uma prova, exigem que a criança vá para o quarto e fique lá estudando horas, decorando histórias sem sentido, tentando entender números que não dizem nada, enfim, é uma chatice só. E o pior, muitos professores também são assim. Ou seja, é óbvio que, a não ser um ou outro mais espertinho, a criança não vai assimilar o conteúdo. Já se você incluir aquele conteúdo em uma história legal, bolar algum jogo, contar uma piada envolvendo personagens históricos ou mostrar que a física está na própria internet que as crianças tanto gostam de mexer, enfim, se você tornar o conteúdo todo atrativo, a criança vai se divertir e, automaticamente, vai aprender.
Em outras palavras, se você fazer com que a criança sinta prazer em ler e estudar, ela vai ler e estudar sempre, até o resto da vida. Já se ela crescer num ambiente onde o estudo é tratado com beiço, carranca e ameaças, a tendência para que ela não venha a ser uma criatura estudiosa lá na frente é grande. Entretanto, lendo o livro do Tas, saquei que tudo o que ele diz faz o maior sentido, é lindo, é sensacional, etc, mas ele e o Gilberto não abordam um problema fundamental: e como enfiar na cabeça de pessoas que não entendem nada de pedagogia de que não é ameaçando a criança que se conseguirá formar um estudante? Ou seja, o problema não está nem no estudante que não quer estudar, mas sim, no seu carrasco, que pode ser o pai, a mãe, o professor, o diretor, etc.
Eu sou um exemplo vivo disso. Penava no colégio para passar de ano. Era sempre a mesma história, a lógica do padre e jogador de futebol: só passava direto em religião e educação física. Chegava na recuperação, que já nem sei se existe mais, precisando tirar notas absurdas. Ficava 15 dias socado no quarto, estudando, e passava sempre ali, raspando. E no outro ano, depois das férias, já tinha esquecido toda aquela decoreba. Entretanto, na universidade, estudando o que eu gosto, devorando livros interessantes, formei-me em jornalismo, fiz mestrado e agora estou no doutorado. E por quê? Porque ninguém na minha vida universitária me menosprezou ou me ameaçou com “vai para o quarto estudar e só sai de lá depois de uma hora”. Essa frase é fatal. Pois geralmente o aluno fica no quarto uma hora matando tempo, desenhando, pensando na morte da bezerra, enquanto os pais se acham os reis da pedagogia.
Para entender as crianças, é preciso pensar como elas. E como o Tas diz no livro: quando um adulto está começando a ir, elas já estão voltando. Adultos, cresçam!
Um bom resto de semana a todos.

*Texto publicado em A Tribuna Regional.

2 Comentários:

  • Tão tá.Em um dos meus cursinhos de pedagogia, o instrutor falou que a gente, principalmente dos cursos técnicos onde a coisa é pesada e cansativa, deviamos, de vez em quando, interromper a aula, contar uma piada, fazer o povo relaxar,,,etc.
    Formatura do curso técnico, orador dos alunos: "provávelmente muitos de nós não nos veremos mais, não mais poderemos fazer brincadeiras e sacanear uns aos outros, não ouviremos as piadas sem graça do Prof. Marcos..."
    Não invalida o que dizes aí em cima porém desnecessário afirmar que desisti das piadas nos cursos seguintes.

    Por Blogger Marcos, às 18 de fevereiro de 2012 às 09:29  

  • A gente devíamos é bom! kkkkkkkkkkkkk

    Por Blogger Marcos, às 19 de fevereiro de 2012 às 16:08  

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