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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

O vestido da noiva

E esse, vai sair no Jornal das Missões desse sábado:

“Estou pensando no vestido da noiva”. Ele não tirava essa frase da cabeça. Sabia que sua namorada andava cada dia mais distante, mas, quando a ouviu falar “estou pensando no vestido da noiva”, olhando para o além, enquanto iam embora do casamento de seu irmão, ele definitivamente não engoliu. Havia alguma coisa bem errada nessa história. Ninguém ficava daquele jeito pensando em um vestido de noiva! E a partir de então, ele passou simplesmente a observá-la. Várias vezes ele lhe fazia perguntas, do tipo: “e aí, vamos fazer o quê hoje à noite?”, ou “você quer churrasco ou um arroz com feijão no almoço?”, ou ainda: “quer vinho seco ou suave?” (mesmo sabendo que ela detestava vinho), e a resposta não vinha. Até que ele insistia: “mas e aí: vai querer suave ou seco?”, e ela simplesmente respondia: “tanto faz... estou pensando no vestido da noiva...”.
Não era possível! Ali tinha! Só podia... Tentou identificar suspeitos. Na verdade, havia vários. Todos ao seu redor eram suspeitos: ex-namorados que volta e meia apareciam pelas redondezas, amigos (alguns se diziam gays, mas vai saber...), colegas de trabalho, até o seu irmão, nessa hora, passou a ser suspeito. Maldito... Lembrou-se da vez em que se apaixonou pela Martinha, do primeiro ano. Ela era da outra turma, e o irmão, estava no terceiro ano. Praticamente indo para a faculdade. Ele era apaixonado pela Martinha, que era apaixonada pelo irmão, que... não negou fogo! Cinqüenta mil vezes maldito! O irmão sabia o quanto ele desejava Martinha. Porém, a vida é dura... Mas será que seu irmão seria capaz de, mesmo sendo noivo, se emaranhar nas carnes rijas da própria cunhada?? Bem possível, bem possível.... Talvez aí houvesse uma ligação semiótica entre o irmão ex-noivo, agora marido, e o vestido de noiva, que ela insistia em falar...
Por fim, ele decidiu fazer o teste final. O tira-teima. A contra-prova. Primeiro, enquanto sua mulher assistia à novela, ele levantou-se, e colocou no Canal do Boi. Ela não abriu a boca. Ficou ali, vendo aquelas vacas desfilarem na tela enquanto um narrador berrava: “320 dou-lhe uma... 320... dou-lhe duas... 320.. quem da mais? Quem da mais?”. Isso lhe dava a certeza de que ela estava apaixonada por outrem. Ela nunca, em sã consciência, deixaria qualquer pessoa mudar de canal na hora da novela. Porém, para saber se seu irmão era mesmo o culpado, ele teria que fazer o mesmo teste. Convidou-o para assistir a um jogo decisivo do Grêmio. Os dois estavam sentados, lado a lado, sem tirar os olhos da TV, até que... pênalti para o Grêmio. Era a hora da verdade. Ele levantou-se da poltrona, e calmamente dirigiu-se até a TV e colocou no Canal do Boi. Voltou a sentar-se ao lado do irmão, que nem piscava... Culpado! Culpado! Assim, ele desvendou o seu mistério, abandonou a namorada, e nunca mais assistiu ao Canal do Boi.
Acho que o mesmo está acontecendo com o lateral-esquerdo do Grêmio, Fábio Santos. Não é possível um jogador entrar em campo tão desligado em todas as partidas. E, creio eu, ele não está pensando no vestido da noiva...

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