Makin-Of Intercom 2010 - Parte 4
Um novo texto “batido”: Intercom 2010 em três atos
Algo mais “batido” para nomear um texto... impossível!!! Não é mesmo Ritter?!
Mas, caros amigos, creio que no universo comunicacional brasileiro, além do próprio José Marques de Melo (que convenhamos, está na “capa da gaita”), poucas coisas são tão “batidas” como o próprio Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação (Intercom). Em Caxias do Sul ele chegou a sua 33ª edição; completou 33 anos “bombando”. Então, se o Congresso já é tão “batido”, acredito que não há problema em intitular um texto que fala sobre esse de-“batido” Congresso com algo também já muito “batido” no Brasil.
Porém, prometo, tentarei aqui fugir do caminho mais “batido” e apresentar a vocês algumas curiosidades, quase particulares, vivenciadas sempre por um pequeno grupo de privilegiados, que por suas peculiaridades creio que mereçam ser compartilhadas.
1º Ato: Numa “batida” a italiana
Subi a serra de carona com a Jamile – colega doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da PUCRS – junto conosco, no carro, foram dois italianos Milly Buonanno e Giovanni Bechelloni. Eles, que nos dias subsequentes seriam conferencistas do Ciclo de Debates Interdisciplinares da Comunicação, queriam muito conhecer a “Nova Itália”. Isso mesmo: já tinham ouvido falar da imensa colônia italiana da Serra Gaúcha e queriam conhecê-la, ao menos em parte. Eu, Jamile, Milly e Giovanni saímos de Porto Alegre abaixo de chuva e fomos direto à Bento Gonçalves; almoçamos numa galeteria e... continuava chovendo; conhecemos uma vinícola e... continuava chovendo; resolvemos fazer a tal Rota das Pedras e... continuava chovendo. Tudo muito lindo é verdade! Só que alguém se esqueceu de avisar, e de colocar nos mapas, que em parte da Rota das Pedras não há pedras; que em dias de chuva na Rota das Pedras, o que há sim é muuuittoooo barro. Alguém ousa imaginar o que aconteceu?! Isso mesmo. O carro, a menos de 1 km de uma via pavimentada, atolou! Parou numa subida. Parecia que não tinha jeito de sair dali. Jamile, nervosa, não sabia o que fazer. Eu disse: deixa comigo! Enquanto Jamile descia do carro e eu assumia a condição de piloto, não sei por que cargas d’água, os italianos, depois de murmurarem algo tipo “porco dio”, também desceram do veículo. Com o carro vazio me senti plenamente à vontade para manobrar como num rali para sair do atoleiro. Nesse momento, Jamile e os italianos subiam a pé o desfiladeiro. Já vencido o obstáculo parei para observa-los. Tinham barro até o meio da canela! Sem exageros! Não aguentei, tive de rir da “tragédia”. Quando eles alcançaram o veículo falei para a Jamile: agora sim, diz para eles que acabamos de repetir parte da saga dos colonos italianos quando chegaram ao Brasil , que eles puderem sentir na pele, especialmente nos pés, àquilo que os imigrantes sentiram ao chegar aqui. Depois do comentário devidamente traduzido e de umas boas gargalhadas, seguimos viajem até Caxias.
2º Ato: Numa “batida” a Pernambucana
Era domingo, 05/09, à tarde. Depois de participar da Mesa Redonda Comunicação: em torno das teorias com Nilda Jacks, Fausto Neto, Milena Weber, Vera França e Laan de Barros, fui para o GP Teoria do Jornalismo – o meu GP no Intercom de 2010. Cheguei atrasado, o primeiro trabalho de Aldo Schimitz, da UFSC, já tinha sido apresentado e estava começando sua apresentação Adriana Santana, da UFPE. Tudo ia relativamente bem. As coisas transcorriam dentro de certa normalidade, com pitadas de chatice, até que Adriana, depois de caminhar bastante durante sua apresentação, resolve escorar-se na mesa do computador utilizado na projeção. Primeiro, ela simplesmente encosta-se; depois ela apoia uma de suas pernas na mesa e senta parcialmente no cômodo. Até aí ok! Só que depois Adriana resolve se sentar literalmente “sobre” a mesa. Tudo isso creio que ela tenha feito involuntariamente, sem pensar. Tudo isso Adriana fez sem parar de falar um segundo. Parecia até que nem respirava. Falava muuuuiiiitooo rápido. Até que de repente, não mais que de repente, um estrondo interrompe a fala de Adriana. Brrroooooommmm. Quando olho na direção do barulho Adriana está estatelada no chão, o computador amontoado num canto e a mesa partida em dois pedaços. Muito engraçado! Porém, o que foi mais engraçado ainda, é que em milésimos de segundos Adriana se levanta e continua sua apresentação. Como se nada tivesse acontecido. No mesmo ritmo de antes e sem perder o tom. Eu que recém tinha entrado na sala para acompanhar as discussões, acometido por uma crise de risos, tive de abandonar o ambiente para não atrapalhar ainda mais o andamento da mesa. Felizmente não encontrei mais Adriana no Intercom, se não, acho que não teria conseguido parar de rir até o final do Congresso. Em tempo: Adriana não era/é gorda!!!
3º Ato: Numa “batida” midiatizada
Não sei como foi para vocês, mas Muniz Sodré apareceu na minha vida já no Mestrado, quando tive a honra de ler, sem entender quase nada, o livro Antropológica do Espelho. Logo em seguida vi uma entrevista de Muniz na TVE, pensei, agora sim vou entendê-lo. Ledo engano! Li mais um monte de coisas do Muniz e de coisas escritas sobre/ a partir dos ensinamentos do Muniz. Vi mais duas ou três conferências suas, ao vivo, e continuei com aquela sensação: não foi dessa vez que o entendi! Só fui entender o Sodré no Intercom de Caxias do Sul, dia 05/09, por volta do 12h30. Para aqueles que já não lembram Muniz participou no Congresso do Painel 03 – Comunicação, juventude e ritmos urbanos: em torno da música e da periferia, junto com Regina Andrade e Micael Herschmann. Foi o primeiro a falar. Discorreu sobre a periferia, a sujeição e a produção educacional do ser. Simples não é?! Falou pouco mais de 20 minutos. Mas, como sempre, fez uma fala densa; porque não dizer pesada; quase “não entendível”. Depois das palmas saí do anfiteatro. Dei um tempo no saguão e então fui ao banheiro. Posicionei-me no mictório e nada. As palavras do Muniz não queriam me abandonar; torturavam-me; continuavam a martelar meu cérebro e, naquela hora, também minha bexiga. Quando finalmente consigo abandoná-las para concentrar-me no ato que me levara aquele ressinto, olho para o meu lado esquerdo e... adivinhem senhores quem encontro na mesma posição?! Simmm, o próprio! Muniz Sodré fugiu da mesa depois de sua fala, atravessou o auditório e veio se postar ao meu lado no mictório de um dos banheiros da UCS. Olhei de novo para conferir. Será que não estou imaginando coisas como sempre faço depois que leio seus textos e/ou ouço suas falas?! Não. O dito cujo “senhor das palavras difíceis e perturbadoras” estava li, ao meu lado, gozando da mesma minha condição de mortal. “Foi muito boa sua fala professor”, disse eu. “É mesmo, você gostou?” Perguntou ele. “Gostei mesmo, só não sei se entendi direito”. Já ao lado da pia do banheiro ele responde: “Não te preocupa. Entender direito não existe, muito menos entender torto. O próprio não entender já é uma forma de entendimento!” Embasbacado, cumprimentei-o me despedindo. Muniz voltou a ocupar seu lugar na mesa do painel e eu o meu assento no anfiteatro. Depois desse fatídico encontro agora sei: entende-lo eu sempre o entendi. O problema é que, juro para vocês, não consigo lembrar se o professor lavou as mãos antes de me cumprimentar e de proferir a sua última sentença no banheiro. Eis a questão?!
Como promessa é dívida, espero mesmo que tenha conseguido fugir do caminho mais “batido”, para falar de outras “batidas” e de coisas nem tão “batidas” que também aconteceram no de-“batido” XXXIII Intercom. E que venha Recife!!!
1 Comentários:
Oi! Nossa que texto "gostoso" de ler! Algumas pessoas tem a habilidade de deixar as palavras com tons macios, suaves, que a gente consegue acompanhar.
E estou bastante aliviada com esse depoimento, pois estou estudado o livro Antropológica do Espelho e , por não compreendê-lo, me assustei...então, significa que eu não sou tão limitada intelectualmente, é que a teoria é complicada de verdade!
Parabéns! Espero um dia ter essa vivência profunda no meio acadêmico!
Por Aline, às 19 de setembro de 2010 às 19:29
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