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sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O esquecido

Já escrevi aqui outras vezes das minhas pirações, do tipo, ligar o micro-ondas sem nada dentro e deixar a xícara com a água a ser esquentada do lado de fora; pegar uma colher para cortar o pão sem querer ao invés da faca; colocar sal no café pensando que era açúcar; ir até uma determinada peça da casa, chegar lá e de repente parar na frente do armário e se perguntar “o que eu vim fazer aqui mesmo?”. Espero que isso não se agrave tanto com o passar dos anos... Minha mãe sempre se irritava quando eu saía para o jornal, lá em Santo Ângelo, e cinco minutos depois eu voltava para pegar algo que eu tivesse esquecido, tipo agenda ou cartão-ponto. Mas o pior era quando eu ligava: “mãe, me trás tal coisa que preciso urgente e esqueci”. Pois é, agora aqui em Porto Alegre, não tenho para quem ligar ou recorrer nessas pequenas emergências. A não ser a minha irmã. Mas como normalmente nem eu, nem ela temos créditos no celular, fica difícil. Só com sinal da fumaça...
Então, escrevi tudo isso, primeiro, porque sempre quando essas coisas acontecem, lembro da nossa ex-empregada Maria, que dizia em tom professoral: “estuda, mas vai com calma. Quem estuda demais acaba ficando louco...” Às vezes acho que ela tem razão. E isso não é novo. Num dos romances do Erico Verissimo há uma personagem, o professor Clarimundo, que passa estudando e elaborando mil fórmulas para diversas questões, mas no dia-a-dia faz coisas do tipo sair de casa e chegar na sala de aula e perceber que está com um sapato de cada cor, ou que esqueceu a gravata, o que quer dizer que... (?!) o que é que eu estava escrevendo mesmo?
Ah, sim, então, esses dias aconteceu isso comigo, pra variar. Saí de casa para imprimir alguns textos na PUC e cheguei na porta do laboratório de informática, no segundo piso da Famecos, e olhei para o laboratorista, que parou a sua conversa com uma aluna para ver se eu estava bem. Arregalei os olhos, pus a mão na cabeça, e disse com ar grave:
- As folhas!
Abri a pasta e vi que não estavam ali. Diabos!
- Esqueci as folhas... mas... que coisa. Não tem umas aí pra me vender?
- Não...
- Putz! Já volto.
E sai procurar algum lugar para comprar folhas A4. Fiquei na dúvida: voltar para casa para pegar o pacote que ficou em cima do sofá ou ir até o prédio 40 e comprar um novo? Estava com preguiça e resolvi ir até o prédio 40. Cheguei lá e só tinham o pacote de 100 folhas, que custava 4 reais. Abri a carteira, tinha R$2,50. Diabos.
- Não tem nenhum pacote de 50 folhas por dois pila?
- Não, o menor é o de 100 – respondeu a vendedora, indiferente ao meu problema financeiro.
- Diacho. Vou ali no caixa eletrônico e já volto.
Fui até o caixa eletrônico. O problema é que quando eu estava subindo as escadas rolantes, encontrei o professor Luciano Klöckner. Só para entenderem, ele é professor da Famecos, ex-gerente da Rádio Gaúcha, e escreveu o livro “A notícia na Rádio Gaúcha”, que foi meu manual-bíblia de rádio nos três anos em que eu trabalhei na Rádio Jornal da Manhã. E para completar, no semestre passado eu apresentei em aula outro livro dele, “O Repórter Esso”. Então, fui conversando com ele até a Famecos tentando sugar brevemente alguma coisa do seu conhecimento. Ele contou que havia chegado há pouco do encontro da Rede Alcar, que rolou em Fortaleza, e eu, ouvindo tudo atentamente, esqueci completamente das folhas.
Subi com ele as escadas que levam até o segundo piso da Famecos, nos despedimos, e segui reto para o laboratório. Quando cheguei na frente do laboratorista, novamente arregalei os olhos e exclamei:
- As folhas!
Porra, o cara deve achar que eu sou completamente surtado. Tentei explicar...
- Eu fui lá comprar, mas aí acabou o dinheiro e encontrei o professor Luciano no caminho, e viemos conversando, e eu esqueci... esqueci... esqueci! Entende?... – vi que ele não tava entendendo muito do que eu queria dizer, resolvi encurtar – bom, vou voltar lá e comprar as folhas...
Virei as costas e fui, enquanto ele ficou com ar embasbacado, pensando “esse cara é louco?”.
Depois dessa lambança toda, voltei ao prédio 40 e finalmente comprei as malditas folhas. Cheguei novamente ao laboratório com o maço na mão, mostrando para o laboratorista, com um certo ar de Mr. Been, como se dissesse “ó as folha! Ó as folhas! Estão aqui ó”. Fui lá, imprimi os textos e voltei para casa. O problema foi que ao fechar a porta do apartamento lembrei que esqueci de pegar outros textos no xérox... Ficam para amanhã, afinal, são apenas para a semana que vem... Agora tenho que ligar para a mãe, mas não consigo lembrar para quê... alguém viu meu celular?

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