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segunda-feira, 8 de junho de 2009

O paraíso canino - e suas depravações

O Jimbo estava comendo sua ração mágica, quando de repente, ouviu um barulho. De pronto, ergueu as suas orelhas, e ficou a olhar para o horizonte com um ar um pouco de curioso, e outro tanto de burrinho e esperançoso, com a cabeça levemente inclinada para o lado esquerdo. Largou um ganido fraquinho, quase um choro, igual ao que largava quando ficava ansioso ao me ver chegar bêbado, de madrugada, no auge da minha adolescência. Dessa vez, ele devia achar que era o seu dono mais uma vez. Acredito que no seu delírio, até tenha sentido realmente o meu bafo de cerveja, e, quem sabe, até ouviu no além a minha voz lhe dizendo “só tu me entende, meu amigo, companheiro...”, enquanto minha irmã, da janela, brigava comigo “vem pra dentro guri, antes que o pai se acorde e te de um paratiquieto”. Aposto que o Jimbo pensava em tudo isso, enquanto percebia que alguém se aproximava do seu pote de ração mágica.
No entanto, quando viu que não era eu, ele ficou ouriçado e desconfiado. O ganido choroso virou quase que um rosno. Calculou que fosse o maldito do Banzé, aquele cachorro ordinário que a vizinha tinha, na qual travara lutas ferrenhas ao longo da década de 90. Principalmente depois que o tal Banzé me botou para correr uma vez, enquanto eu voltava da aula. Maldito. Passou a haver certa rivalidade entre o meu cachorro e aquele cusco psicopata. E o Jimbo, apesar de ser um pouco menor, levava a melhor, igualzinho ao Mike Tyson no auge da carreira, que pegava caras com o dobro do seu tamanho, e os derrubava com patadas que pesavam toneladas. Mas na briga entre o Jimbo e o Banzé, eram as dentadas que pesavam mais do que o Faustão e Jô Soares juntos.
Porém, mais uma vez o Jimbo se enganara. O que ele viu sair daquela névoa, era a imagem mais linda que seus olhos já viram. Por alguns segundos, seu coração, que fisicamente já não batia mais, mas espiritualmente trabalhava em ritmo normal, começou a bater mais forte. O ar parecia não querer entrar em suas narinas, e a ração mágica ficou travada na metade da garganta. Tratava-se dela, a Pipoca, amor e companheira de uma vida canina toda, que durou mais de 15 anos. Ela não agüentou a viuvez, e foi lá, fazer companhia ao Jimbo, no céu dos cachorros, semanas antes do dia dos namorados. E depois de jantarem juntos a ração mágica, e beberem de um champanhe especial para cães (igualmente mágico), eles foram para o aconchego do lar, onde lhes esperava uma linda cama de casal canina, na casinha mais bonita do céu dos cachorros. E assim, os dois vivem felizes, entre uma lambida e outra. E algumas mordidinhas, é claro, porque a depravação também faz parte da vida. Inclusive no céu dos cachorros.

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