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quinta-feira, 4 de junho de 2009

Diploma sim, e JÁ! - parte 2

Bom, não vou poder colocar aqui tudo que o presidente da Fenaj disse no encontro mencionado no último post, e os contrapontos apresentados por aqueles que são contra a obrigatoriedade do diploma, mas vou apresentar aqui alguns dos argumentos dessas pessoas com o meu contraponto, baseado em parte no que disse o Sérgio, e também na opinião de outras pessoas. Enfim, vamos aos pontos e contrapontos.
1°) Os jornalistas são desunidos.
Por ironia, começo por algo que não tem ponto/contraponto, mas sim, só ponto mesmo. Essa é a mais absoluta verdade, tanto é, que a polêmica é entre os profissionais, e não entre o restante da sociedade. Segundo a Fenaj, em uma pesquisa realizada recentemente, aproximadamente 80% da população é a favor da obrigatoriedade. Já entre nós mesmos...
2°) Bom, apresento aqui o argumento do meu primo Gérson, que está morando na Itália, no post anterior: “na minha opinião, a obrigatoriedade do diploma não é necessária. O problema aliás se encontra no contexto editorial brasileiro, em quem contrata, e não quem por ventura exerce a profissão ou faz matérias”.
Pois aí é que está a necessidade de se exigir o diploma, já que no Brasil, não podemos depender da ética de quem contrata. Caso a qualidade dos contratados dependa disso, volto a repetir, teremos adolescentes que ainda estão no segundo grau escrevendo em jornais e falando em rádios por serem parentes ou filho de amigos dos donos dos jornais.
3°) Os grandes jornais vão seguir contratando apenas jornalistas formados, para manter a qualidade do jornal.
E os pequenos? O que vai virar o interior, que já é uma zona? Ah, esqueci. Quanto mais desinformada e mais BURRA for a população, mais fácil fica de se persuadir, manipular, enfiar produtos goela abaixo, livrar a cara de corruptos e tudo o mais. Por que mudar? Por que dar armas à população? Por que fazer as pessoas se questionarem? Aliás, pra que pensar? Ah, sem contar que, claro, como já disse, o salário vai cair e vai ter espaço nas redações quem for mais submisso, quem não questionar, quem fizer o que os empresários, os políticos, enfim, o que a chefia mandar. Não vai se ter muita diferença entre um jornalista e um animal que puxa uma carroça.
4°) Em parte da Europa e nos Estados Unidos não é obrigatório.
Bom, são outros países e outras culturas, que estão anos luz na nossa frente. Principalmente em relação a Europa. E os Eua? Ah, nos Eua nós temos um jornal fazendo matéria de página inteira dizendo que o jornalista do concorrente foi visto bêbado na noite com uma prostituta, e por aí vai... Vamos combinar, o povo norte-americano é referência em economia, mas muito pouco em relação a cultura. O grande mérito cultural dos Estados Unidos é o de reunir culturas do mundo inteiro, que vão para lá em busca das mais diversas coisas. Basta ver os filmes do Michel Moore.
5°) Tendo formação em outra área das ciências humanas, é possível ser jornalista. Inclusive, a capacitação pode ser até melhor.
Então o processo tem que ser inverso e eu posso dar aula de história em escola, posso ser psicólogo, advogado, etc. E Letras? Sei tudo do Erico Verissimo. Sei até que ele perdeu a virgindade com uma prostituta em Cruz Alta. Pronto, estou apto a dar aulas de português para o SEU FILHO! Vou entregar uma penca de livros do Bukowski para ele ler, com muito vinho! Vai ser ótimo né? E vamos combinar aqui também, eu já fiz disciplinas com outros cursos, e é um ou outro que teria condição de assumir alguma função jornalística. Se liberar, os 90% que não sabem falar e não tem noção de como fazer uma entrevista vão estar habilitados para isso. Vamos ter manchetes como “Assessoria de Imprensa da empresa Tal divulga informações”, como já vi certa vez em um desses jornais que o dono sem noção é quem escreve as matérias. Pior que isso, só bebendo água do Arroio do Dilúvio.
6°) Tem muito jornalista ruim, com má formação, que não entende de história, economia, política, etc...
Tem muito advogado ruim, médico ruim, professores ruins, filósofos ruins, farmacêuticos ruins, enfim, tem muitas pessoas incompetentes e ruins no mundo mesmo.
7°) A gente aprende na prática.
Aprende o quê na prática? Ah sim, se tu ensinar uma mula a mexer no Page Maker, ou no In Design, ou a operar uma mesa de áudio ela vai ser um ótimo TÉCNICO. Ah, e escrever qualquer um escreve, montar texto, editar imagens, é fácil. Claro, aí a criatura que está fazendo isso não tem a mínima noção do que ela está fazendo (no sentido social) e vai só repetir o que vem de cima. Afinal, já diria Harold Innis na década de 30, um economista canadense que foi professor de Marshal McLuhan, “informação é poder”. E quem quer derrubar a obrigatoriedade do diploma sabe muito bem disso.
8°) Eu me formei e não aprendi nada, acho que não precisa, conheço muito jornalista que também não tem grandes noções de teoria e estão em bons cargos e aprenderam na prática.
Bom, essas pessoas que ocupam bons cargos podem achar que não aprenderam nada e que estão aprendendo na prática, mas inconscientemente elas sempre acabam utilizando o que aprenderam na faculdade, mesmo que não se dêem conta disso. E mais: se de fato não aprenderam nada na faculdade, mas sim na prática, então só tenho uma coisa a dizer: apesar de ocuparem bons cargos, são péssimos profissionais. Como disse o Humberto Trezi, da Zero Hora, no lançamento do livro sobre os 45 anos de ZH, de fato, se aprende na prática, mas as discussões na faculdade é que dão as noções de ética e tudo o mais. Dava até para gravar uma aula de pós, com uma turma formada só com alunos da comunicação, e ver o que acontece quando chega alguém de outra área. As perguntas sobre questões que nós consideramos básicas são as mais diversas e engraçadas (para nós). Claro que a gente ajuda a criatura, e ela sempre reconhece que não tem a nossa formação e com isso há uma troca, ela passa ensinamentos valiosos da sua área, e aprende conosco sobre a nossa. Agora, como tu vai habilitar uma pessoa graduada em outra área (e no caso da pós, são pessoas mais qualificadas que a média) a exercer a profissão? Muita gente fala em Jornalismo pensando apenas em algumas das funções do jornalista. Mas o jornalista tem várias funções, e não pode dar um diploma para alguém que simplesmente escreve ou fala bem. Advogados e psicólogos também escrevem e falam bem, então, vou querer o diploma deles também.
9°) Tem grandes jornalistas que não são formados.
Óbvio, são de outros momentos históricos, mas a sociedade tem que EVOLUIR e não REGREDIR. Esses, de fato, já conseguiram o direito de exercer a profissão. Mas quem diz isso deve estudar então como surgiram os cursos de Direito, de Medicina, enfim, tem que estudar como surgiu a universidade, já que ela não caiu do céu, e é óbvio que os professores, nesse processo inicial, sempre vieram de fora. Não foi Deus quem mandou um anjo e disse “vai lá meu filho, ensina essa cambada a exercer a profissão X”.
10°) E o Drauzio Varela?
O Drauzio Varela é um ótimo escritor e de fato faz belas matérias no Fantástico. Mas se liberar tudo, alguém acha que algum médico, advogado, ou professor de história vai lá fazer o trabalho de peão do jornalista? Vai trabalhar na produção dos programas, vai sair na rua fazer enquete? Porra, me dêem um tempo. Discutir a obrigatoriedade do diploma de jornalista é como discutir a obrigatoriedade de qualquer diploma. O foda é que os questionadores são jornalistas que não tem noção (muitos porque não precisam ou porque não exercem a profissão) do regresso que isso para nós, profissionais, e para a sociedade. Afinal, muitas vezes o que está lá, no jornal, ou o que é mostrado na televisão, internet, ou qualquer outro meio, marca muito mais do que um conselho de pai ou de professor. E na hora que largarem pessoas incompetentes para informar a sociedade, o reflexo vai vir lá adiante. Admito: está ruim. Mas vamos conseguir deixar tudo ainda pior. É a aplicação da lei de Murphey na comunicação. Agora, meus futuros alunos que me perdoem, mas para evitar a formação do que todo mundo chama de “péssimo profissional”, e aí não é só no jornalismo, só tem uma solução: as universidades liberarem os professores a reprovar quando uma criatura não tiver condições de passar nas disciplinas. Mas aí já é outra discussão... E se as universidades não dependessem de dinheiro e liberassem isso, toda essa cambada que está questionando a obrigatoriedade do diploma talvez sequer chegasse ao 4° semestre.

1 Comentários:

  • Eduardo, acho uma injustiça o fato de tantas pessoas se formarem e nao conseguirem um lugar ao sol no jornalismo, assim como tem jornalista formado e incapacitado, tem os não formados e capazes, fazer o que né?
    Já que o diploma hoje é obrigatório, que tenha lugar para quem sabe fazer um jornalismo decente e capaz de nos orgulhar.
    Abs!!
    Juliana

    Por Blogger juliana, às 4 de junho de 2009 às 20:04  

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