Promoção
Aqui em Santo Ângelo foi reinaugurado o Supermercado Nacional com Super-Promoções para os Super-Consumidores. Como era de se esperar, parece que o mundo vai acabar e todo mundo lota o supermercado, desesperadamente. Deixam outros compromissos de lado, desmarcam a consulta no médico, deixam o filho na casa do vizinho, do tio, da avó, esquecem de dar comida para o cachorro, atrasam ou saem mais cedo do trabalho, largam tudo que estão fazendo para ir lá comprar a chaleira com 15% de desconto ou o ferro de passar com 16,32% de desconto em até 24 suaves prestações. Promoções imperdíveis para o desenvolvimento da humanidade, certamente.
Agora, fico lembrando de algumas promoções que até hoje eu lembro e acho que me dei bem. O curioso é que não tinham filas gigantes para aproveita-las.
A primeira foi na Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo de 2005. Estava eu, no intervalo entre uma palestra e outra, olhando as bancas que vendiam livros. Olhei na parte dos que estavam na promoção de R$5. Fucei, fucei, fucei e fucei, e não via nada que me interessasse. Somente livros de auto-ajuda, guia disso, guia daquilo, livros didáticos, mó chatice. Até que achei um livro com capa amarela, na qual o título era “O Tradutor Cleptomaníaco”, de um escritor húngaro, Dezsö Kostolányi, do início do século passado. Li o resumo na contra-capa, gostei. Era uma coletânea de contos, sendo que na maioria tratava-se de alguém falido sem dinheiro para comprar a manteiga do pão, algo meio bukowskiano. Comprei a preço de banana, e até hoje considero um dos melhores livros de contos que já li. E para compra-lo, além de gastar pouco, ainda não precisei ir às 6h para a fila da promoção.
O segundo foi em um sebo na Avenida João Pessoa em Porto Alegre. Foi na época dos panfletos da Otávio Rocha. Para você que não leu os primeiros textos dessa coluna, há pouco mais de um ano eu trabalhei como panfleteiro de uma financeira no Centro de Porto Alegre. Estava mal, financeiramente, como é de se deduzir. Tinha ido almoçar num restaurante (lógico, não iria almoçar em uma oficina mecânica) e ao lado tinha o tal sebo. Saí do tal restaurante (qual o sinônimo de restaurante?) com seis reais no bolso que, a princípio, eram para os pães da noite. Entrei no sebo só para olhar. Vazio. Fui pegando os livros, analisando, até que achei o Feliz Ano Velho, do Marcelo Rubens Paiva. Capa dura e tudo. Fazia tempo que queria ler esse livro. Folhei, dei uma olhada por cima, tudo em ordem. Olhei o preço: 5 pila. Bom, sobrava um real, ainda dava para pelo menos três cacetinhos. Se não, pelo menos dois e meio daria sim. Mas resolvi dar mais uma olhada nos livros, e achei o Romeu e Julieta de um tal de William Shakespeare por um real. Foi-se assim, meu único tostão. Teria que arranjar dinheiro em algum lugar para comer de noite, mas saí feliz da vida com uma sacola com o Romeu, Julieta e Marcelo Rubens Paiva, todos juntos, cantarolando.
Já a terceira promoção imperdível (pelo menos para mim) que aproveitei foi na última Feira do Livro de Porto Alegre. Estava olhando as bancas com a minha irmã quando vi o Meia Encarnada, Dura de Sangue, organizado pelo Ruy Carlos Ostermann, por, acreditem, R$5. Esse livro traz crônicas sobre futebol de escritores como Erico Verissimo, Luis Fernando Verissimo, Moacyr Scliar, Luís Augusto Ficher, Sérgio Faraco, Simões Lopes Neto, Tabajara Ruas, e muitos outros. Tudo por míseros 5 pila. Tudo bem, aí vai o crédito para a minha irmã, Cartolina, digo, Carolina Ritter, que comprou o livro para me dar de aniversário. Mas, se eu não tivesse levado aquele livro, possivelmente ninguém acordaria de madrugada para ir para uma fila compra-lô na promoção. Afinal, para que conhecimento, tendo panelas, chaleiras, ferros de passar, tapetes, tudo pela metade do preço?
1 Comentários:
livro dá pra esperar, essas coisas do cotidiano acabam rápido qdo são baratas/em promoção =p
Por Fábio Ritter, às 23 de dezembro de 2008 às 18:50
Postar um comentário
<< Home