.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O Genro

* Texto inspirado no personagem Bruno, de Partículas Elementares, de Michel Houellebecq.

O Genro abriu a sua oitava latinha de cerveja quando o telefone tocou. Era a Esposa para dizer que a situação da Sogra havia se agravado. Agora ela apenas abria os olhos. Não falava, não sorria, não chorava. Era uma múmia ambulante. O Genro perguntou se havia algo que pudesse fazer, e a Esposa disse que sim, que ela estava cansada, que a irmã tinha ficado no plantão no serviço dela, e pediu para o Genro passar a noite com a Sogra no hospital.
O Genro foi até o quarto, pegou uma mochila e resolveu levar apenas o necessário: umas cuecas e meias usadas, a camisinha que havia gozado com uma puta horas antes e que estava no fundo da lixeira do banheiro, uma garrafa de whisky e sua escova de dentes. Foi até a cozinha, tomou um copo de leite com Nescau, depois chupou uma laranja e comeu um vidro de ovo em conserva. Pôs tudo no carro e partiu para o hospital. A Esposa disse que voltaria logo cedo no outro dia, ao que ele respondeu para ela não se preocupar, pois a velha estaria bem cuidada nas mãos dele. Entrou no quarto, a velha o encarou com o mesmo olhar desconfiado que o fitava há mais de duas décadas.
- Então, é só nós dois, heim, velha?
Ela não manifestou qualquer reação.
Ele largou a sacola no banheiro e cagou de porta aberta. A cada peido fedorento largado, ele dizia:
- Não se preocupe, velha, é só pra você se manter acordada.
Voltou ao quarto, olhou para a velha, e sorriu:
- E, então, velha? Qual vai ser a programação? É uma pena você não poder falar para dizer o quanto eu não valho nada para a sua filha, que ela não sabe escolher marido, que eu sou um vagabundo sem utilidade nenhuma, né não? Mas agora achei a minha serventia. – o Genro deu uma pausa cerimoniosa, tomou um gole de whisky que acabara de servir, e respondeu – Isso mesmo, velha. Minha utilidade é cuidar da senhora. Sou um ótimo cuidador, sabia?
A velha nem piscava.
- Quer uma água, velha? Acho que vai te fazer bem. Eu tenho algo aqui que vai te ajudar bastante. Esperaí.
O Genro foi ao banheiro com um copo plástico, serviu com água da privada e mexeu dentro do copo a camisinha usada que estava na sacola. Voltou ao quarto:
- Preparado com todo o carinho para a minha sogrinha querida. Tenho certeza que vai te animar um pouco...
Ele se aproximou da velha, abriu-lhe a boca e despejou tudo lá dentro. A velha começou a tossir.
- Delícia, não? Tua filha sempre gostou desse creminho. Pena que está um pouco frio. Aliás, vou te contar um segredo: sabe por que, apesar de todas as tuas bruxarias e cretinices, a tua filha nunca me deixou para trabalhar de escrava da senhora, como você fez com a Cunhada? Por causa disso – e, então, ele abaixou as calças. A velha encarou a piroca do Genro ali, murcha e cumprida. Ele recolheu o instrumento. Você tinha um puta trabalho pra fazer uma tramoia contra mim, ela te ouvia, ficava na dúvida, balançava, mas de noite eu ia lá e CRAW, fazia ela ver estrelas... E essa arma aqui – ele balançou o saco que estava dentro das calças – essa arma aqui você não tem...
Ele se sentou no sofá do acompanhante dos pacientes. Não fazia ideia se a velha entendia alguma coisa. Ele continuava no whisky.
- Quer um pouquinho, velha?
Nada.
- Ah, esqueci, você não bebe. Como pude confiar por algum tempo em uma pessoa que não bebe? Tsc, tsc. Você e o seu velho, não é não? Aliás, ele e o capeta tão de braços abertos, te esperando...
Ele olhou para o teto, mexendo o copo lentamente.
- É engraçado, não é? Vocês deixaram a gente passar fome, não nos ajudaram com um tostão... Fizeram o mesmo que levou a Cunhada de volta para vocês.. mas vocês não imaginavam que eu era tão forte, né não? Fizeram que nem os americanos com Cuba: pensaram que impondo um bloqueio financeiro nos derrubaria... Mesmo depois que eu e sua filha conseguimos ótimos empregos, continuaram avacalhando, sempre tentando tirar uma lasquinha... Lembra do nosso casamento? É, eu lembro bem.
Tomou um longo gole.
- Lembro que faltou comida. Eu tinha contratado um restaurante que fez comida para 200 pessoas. Foram 150 e faltou comida. Curioso, não?
A velha apenas fitava os seus olhos. Um sopro de expressão facial pareceu estar presente naquela face enrugada e murcha.
- É, eu sei. Você e o crápula do seu velho roubaram metade da comida. E achou que eu nunca iria descobrir, né não? Mas, no outro dia, depois da lua de mel, eu passei na sua casa e apenas a empregada estava. Aliás, muito boa a empregada de vocês. O teu velho que o diga, fez bom proveito. Fui pegar uma água na geladeira e vi pratos e pratos do cardápio do nosso casamento lá dentro...
O Genro tomou mais um longo gole.
- Está na hora de escovar os dentes, não acha? Vou lá preparar sua escova.
Não encontrou nenhuma escova no banheiro. Apertou a campainha e, em poucos segundos, uma enfermeira apareceu.
- Mas que merda de hospital é esse?? A minha querida e amada sogra aqui, lutando para sobreviver, para dar mais alegria à nossas vidas, e vocês não providenciam uma porra duma escova de dentes????
A enfermeira saiu assustada e em dois minutos apareceu com uma escova e uma pasta de dentes.
- Passar bem! – O Genro berrou e bateu a porta no nariz da enfermeira.
- É uma falta de respeito! Uma dama idosa, como a senhora, passando por isso.. Mas não se preocupe, querida sogra, estou aqui para cuidar bem de você...
Ele entrou no banheiro e enxaguou as meias fedidas na escova de dentes. Depois, passou-a na bunda e no saco, colocou uma camada fina de pasta, cuspiu, e foi lá, escovar os dentes podres da velha.
- Isso... isso.. Nada mau... vai ficar novinha! Sua filha nem vai te reconhecer amanhã de manhã....Pronto! Um brinco!
Levou a escova de volta para o banheiro.
- Sabe, eu estive pensando... Foi admirável a vida de vocês... Não ajudar em nada as duas filhas, acumular todo esse patrimônio... Mas, como vocês não tem netos, eu vou tomar conta de tudo... Já conversei com a Esposa. Vou administrar tudo. Estou só esperando o óbito para colocar tudo a venda: carro, casa, terreno, apartamento na capital, tudo... Acho que aplicar o dinheiro numa grandiosa bebedeira com meus amigos nuns puteiros por aí. Em uma semana creio que não vai sobrar nada...
Vai ser épico! Uma vida de bens acumulados sendo aproveitada pelo sujeito que cuidou de você no seu leito de morte....Nada mais justo, não?
Ele olhou para ela e julgou ter visto uma lágrima num canto do olho esquerdo. Nada não, pura ilusão. Aquela velha múmia não podia ter sentimentos...
- Tome – e ele deu um gole de whisky para a velha – isso vai te fazer bem...
Ele andou um pouco pelo quarto até parar do lado da velha. Soltou um peido fedorento e disse:
- Já cancelei o teu plano funerário e contratei os serviços da Marcinha. Sabe a Marcinha, né? Isso, aquela velha que foi amante do teu marido durante anos... Aquela mesma com quem você fez um barraco no velório dele... Ela vai fazer o serviço com carinho... resolvemos te cremar... – Ele jurou ver os olhos da velha se arregalando – Não se assuste, vamos levar você para casa... Todos os dias vou te regar com meu mijo quentinho... – E tomou mais um gole de whisky.
Ele olhou a velha e suspirou.
- Velha, velha. Vou sentir falta tua...
Então, ele riu insanamente, e gritou:
- Pegadinha do Malandro! Rá!
Ele olhou para a TV. Ligou. Mudou de canal várias vezes até sentenciar:
- Puta merda, não tem pornô nessa bosta! – Apertou a campainha. Em poucos segundos a enfermeira apareceu.
- Não tem pornô nessa merda???!!!!
- Não, senhor.
- Que diabos!! E como você acha que a puta da minha sogra vai se divertir?? Ela sempre foi viciada em pornô e não pode ver a porra de uma suruba nessa merda de hospital??? – E bateu a porta na cara da enfermeira.
- Não se preocupe, sogrinha, eu trouxe aqui meu notebook – E, então, ele ligou um pornô no computador e assistiu ao lado da sogra, na beirada da cama. Gozou duas vezes assistindo aos videozinhos, preparando água de patente com espermatozoide na esperança de que ela melhorasse. Quando se deu por conta, já estava amanhecendo. Quando a Esposa chegou ele foi beijar a testa da Sogra e sentiu a pele gelada. Ao ver a Esposa, disse:
- Vou ligar pra Marcinha ir ascendendo o fogo que é hoje que o Capeta vai fazer festa...
As cinzas estão na mesa da sala e, todas as manhãs, a primeira urina do Genro é dedicado a homenagear a Sogra.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home