Um livro fodão sobre um cara fodástico

Buscando o sucesso no jornalismo, entra em polêmicas com autores consagrados, escrevendo textos venenosos e forma-se em Direito. Já tem certo reconhecimento quando entra em uma briga histórica em um concurso para professor de Direito da Universidade Federal de Pernambuco. Como namorava a filha do reitor e o seu concorrente é relativamente famoso, o concurso ganha atenção da imprensa no Brasil. Ele supera o rival, que acaba recorrendo do resultado, apoiado pelos alunos e outros figurões. Apesar de ainda ser um guri de aproximadamente 20 anos, o nosso personagem consegue audiência com o presidente da República na então capital federal, Rio de Janeiro, que lhe garante a posse. Após o sucesso do caso, é procurado por empresários para advogar e sequer chega assumir a vaga de professor universitário. Troca Recife pelo Rio para advogar para a mesma ricaça que, lá atrás, contratou-o como mordomo. Aos poucos, busca novamente a paixão pelo jornalismo. Trabalha nos maiores jornais do Rio, com destaque para o então grande Jornal do Brasil, e faz um puta trabalho de jornalista, principalmente como correspondente internacional, dando furos e mais furos em jornalistas brasileiros, americanos, alemães, etc. Consegue entrevistas, por exemplo, com alemães derrotados na primeira guerra que, até então, nunca tinham falado com a imprensa.

Certa vez era para ter morrido. Voltava da Europa em um vôo com várias escalas, mas resolveu descer em Recife. Na seqüência, o avião explodiu. Quando todos achavam que tinha finalmente morrido, ele aparece, sorridente, feliz da vida. Outra vez, em um hotel em Londres, sentava-se para ler jornais comunistas para irritar os hospedes, que logo pediram aos donos do hotel para expulsar aquele baixinho que falava inglês com sotaque de nordestino. Fez um escândalo e chamou a atenção de um figurão da Primeira Guerra, que intercedeu, dizendo que se aquela figura pitoresca deixasse o hotel, ele também sairia. Acabaram todos ficando, e depois desse dia ele passou a fazer barulho ainda maior ao folhar as páginas dos jornais comunistas, irritando a todos.
Costumava dizer aos seus jornalistas que quem quisesse emitir opinião, que comprasse seu próprio jornal. Escreveu em toda a vida 11870 artigos. Foi tema de grandes reportagens em todos os grandes jornais do mundo, como o New York Times. Foi um mulherengo incorrigível, casando, tendo filhos, mulheres, amantes, ex-mulheres, casos, etc. Ainda jovem, conheceu a princesa Isabel, que lhe perguntava “como andam os meus negrinhos no Brasil?” e a rainha Elisabeth, que deixou de lado a frieza com que tratava os diplomatas para gargalhar com aquele baixinho que, só de birra, conseguiu ser embaixador do Brasil em Londres. Também foi senador e dono de estações de rádios, TV, jornais e revistas, além de outras empresas, como laboratórios. Quando ia viajar e não tinha dinheiro, passava na empresa mais próxima e levava todo o caixa. Certa vez, o contador, indignado com isso, disse para o patrão pelo menos assinar um documento quando fizesse isso, pois do jeito que estava não dava mais. No primeiro aperto passou no caixa da empresa, levou todo o dinheiro, e deixou um bilhete: “Fulano, levei tudo. Assinado: Assis Chateaubriand”. Ou, Chatô, o rei do Brasil.
Esse é o breve resumo, com alguns dos fatos que me vieram na cabeça após ler as 700 páginas do livro escrito por Fernando Morais. Um puta livro sobre um puta personagem. Para escrever essas linhas sequer peguei em mãos o livros, pois cada história narrada fica gravada na mente do leitor. E é uma atrás da outra e uma mais interessante que a outra. Mal dá tempo para respirar. O livro, aliás, é um resumo da vida de Chatô. O cara foi muito foda: uma espécie de capeta travestido de jornalista que depois se torna empresário e político. Sem brincadeiras, ele realmente mandava no Brasil, mudando leis, nomeando e derrubando ministros, perseguindo as desavenças, xingando, brigando e, principalmente, falando e escrevendo frases de efeito, tomadas de um humor negro e ironia.

Passou os oito últimos anos (dos 75 anos que viveu) tetraplégico. Nesse período, ao saber que um de seus funcionários mais antigos morrera, quando estava pronto para embarcar para mais uma viagem internacional, ouvindo argumentos para que desistisse da viagem para ir ao enterro do amigo, simplesmente retrucou:
- Se eu for não vou ressuscitar ele. Vamos embarcar.
Enfim, como sei que estou escrevendo para ninguém, pois o vagabundo leitor tem preguiça de ler textos grandes, vou parando por aqui.

É muito bom. Para quem sabe o quanto eu leio, ouso dizer que, com certeza, é um dos cinco melhores que já li.
Hasta!
9 Comentários:
eu venci e li o texto, que assim como o livro deve ser (não li) eu gosto dos seus textos e da linguagem fácil que você escreve rsrs... E claro, falando de um paraibano tinha que ler, né?! queria ver sua visão sobre ele. E pelo que vi deve ser muito bom mesmo, pra estar no teu ranking dos 5 melhores! Uau! Beijo.
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Thâmara Roque, às 16 de janeiro de 2012 às 12:27
porra alemao, um dia, quem sabe, talvez, eu leia
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Zaratustra, às 16 de janeiro de 2012 às 13:01
Consegui! Plagiando o alemão Zaratustra, um dia talvez caia nas minhas mãos e eu leia.
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Marcos, às 16 de janeiro de 2012 às 13:06
Bah... eu li todo o texto, mas é o tipo de personagem que não me dá essa emoção toda... afinal, ele fez lá o que muitos políticos fazem hoje e que a gente reclama muito inclusive...
sei lah... esses personagens não são meus favoritos...
mas o livro, apesar dos pesares, como obra de carácter histórico e cultural, parece ser realmente interessante.
Pena que eu não tenho nem 10% da tua disposição para a leitura...
no mais era isso, manolo!
Abraço!
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Mr. Gomelli, às 16 de janeiro de 2012 às 14:42
Assino embaixo. Foi um dos melhores livros que já li na vida e um dos poucos que sou egoísta e só empresto pra pessoas que sei que vão cuidar direitinho. A história do cara é f e a maneira como ele fez seu império tbm.
Baita livro mesmo. Pena que o filme nunca ficou pronto.
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Dilea Pase, às 16 de janeiro de 2012 às 16:25
porra, até q o pessoal leu..auhauaha. mr. gomelli, o foda não é só a história do cara, que vai além da filhadaputice de muitos donos (o cara no início da carreira da aula de jornalismo pra muito jornalista que não levanta a bunda da cadeira) e a linguagem do fernando de morais é 10.000 vezes mais foda que a minha. meu texto ficou uma merda comparado com o livro. vcês tem que ler o livro!!! é uma ordem que o chatô manda do inferno para todos!!!
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Eduardo, às 17 de janeiro de 2012 às 07:54
Concordo c/o que o Mr. Gomelli disse...
Uma pergunta: não foi ele que introduziu a TV no Brasil? Isso sim é importante, mas não tenho certeza q foi ele!!
Li td o teu comentário desta vez, pq não me disponho a ler mais de 700 páginas... hehehehe
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Nara Miriam, às 18 de janeiro de 2012 às 03:37
Este comentário foi removido pelo autor.
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Nara Miriam, às 18 de janeiro de 2012 às 03:37
foi ele, mas daí, na época da ditadura, a globo passou a receber verbas estrangeiras e tal, se aliou com os militares, e quebrou os Associados, que aidna contam com alguns veículos, como o Correio Braziliense.
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Eduardo, às 20 de janeiro de 2012 às 17:23
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