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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Décadence avec élégance

“Ele não é mais o mesmo”. Disse essa frase há alguns anos, em um boteco em frente à velha e falida Fidene, em Ijuí, referindo-me a um primo meu que, nem de longe lembrava o garanhão-Dom Juan que ia comigo e minha família para o litoral catarinense nos verões da década de 1990. Lembro que, naqueles tempos, eu sentia uma ponta de inveja dele. Mas ao mesmo tempo eu tentava observar e mimetizar o seu conhecimento e suas atitudes para tentar ter o mesmo sucesso que ele tinha com a mulherada.
Nas festas, a história era sempre a mesma. Quando vinha em minha direção uma morena de cabelos negros escuros, shortinho sumário, pele bronzeada, sorriso brilhante no rosto e olhos brilhando de excitação, meu coração acelerava e meus miolos enviavam a seguinte mensagem ao resto do corpo: “ei, man, não fique nervoso. Respira fundo e se consagra. Você é o cara!”. O cara o carajo. A mina vinha dançando em minha direção e falava com voz adocicada: “Quem é aquele”, apontando com a cabeça para o meu primo, que bebericava a sua cerveja perto da copa. Fiadapu! E, mais uma vez, eu via ele se consagrar enquanto eu tinha que correr atrás do prejuízo, como um time que sai levando 2 a 0 no primeiro tempo. Às vezes eu reagia e me recuperava, mas às vezes só assistia a goleada alheia...
Na beira do mar, a história era parecida. Eu via uma beldade, podia ser uma loira de tanga florida com coxas bronzeadas a mostra, uma ruiva enfeitiçante, ou ainda uma negra de corpo estonteante, não importa, a dita cuja passava por nós e virava o pescoço para olhar o meu primo, que geralmente mexia com ela e já pegava o telefone da filha do Homem.
Mas, voltando ao início da história, nada dura para sempre nessa vida, e eis que anos depois, após ficar um bom tempo sem ver esse meu primo, reencontrei-o gordo e bêbado em um bar na frente da Fidene, levando foras e foras de gurias que, anos atrás, implorariam para conhecer ele. Ao vê-lo naquela deplorável situação, comentei com um amigo, que conhecia a sua fama de garanhão: “definitivamente ele não é mais o mesmo”. Curiosamente, no período em que o revi, eu ainda estava na faculdade e minha situação já era bem diferente daquela vivida na década de 1990.
Enfim, pensando sobre a dupla Gre-Nal nesse início de ano, concluo que tanto Grêmio quanto Internacional estão mais ou menos na mesma situação do meu primo.
O Grêmio está vivendo de glórias passadas, dos tempos em que conquistava os troféus mais desejados por todos, tão desejados quanto as princesinhas do meu primo. Mas, viver de passado é triste. É decadente, e o Grêmio precisa se levantar. Cléber, Moreno e Cia estão com a pele em perigo, pois se o Grêmio não ganhar nada nesse ano eu realmente não sei o que pode acontecer.
Já o Inter está como meu primo nos áureos tempos: acha que a fase maravilhosa vai durar para sempre. Pois assim como meu primo exagerou na bebida e na comida e decaiu perante o conceito da mulherada, o Inter também, cedo ou tarde, se não se cuidar, vai voltar a ser o que era: um time respeitado, mas sem títulos.
Enquanto os gremistas sonham em ressurgir das cinzas, os colorados almejam uma decadência com elegância. Ou, como já diria o velho e bom Lobão, décadence avec élégance.
Um bom final de semana a todos.

*Texto publicado no Jornal das Missões de amanhã.

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