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sexta-feira, 29 de abril de 2011

Analfabetismo funcional

Sei que já abordei analfabetismo funcional em outra coluna, mas esse é um assunto que me fascina. Entretanto, creio que muitas vezes há uma confusão entre analfabetismo funcional e interpretações permitidas pelo texto. Mas comecemos pelo analfabetismo funcional. Como já foi divulgado inúmeras vezes, o Brasil é um dos países com maior índice de analfabetos funcionais, algo em torno de 90% da população. Ou seja, são pessoas que são alfabetizadas, que sabem ler, mas não sabem interpretar o que leem. Outra vez citei um exemplo bem simples: é como você apresentar um texto com a seguinte informação: João foi de avião de São Paulo para Recife, e depois perguntar: Como João viajou de São Para Recife? E a pessoa responder: ãhn... não sei, acho que de ônibus. Claro que esse exemplo é demasiado simplista. Vou citar outro, que aconteceu com uma coluna minha.
Escrevi outro dia um texto relacionado a piadas de sogra. Pois me contaram que um sujeito chegou para a própria sogra e disse: olha só o que o Eduardo escreveu para a senhora. Ou seja, nesse caso, há duas possibilidades: ou o cara é um analfabeto funcional, que não entendeu o que leu, ou é um pilantra cara de pau. Nesse caso, acho que ele foi pilantra e quis botar no meu a birra que ele mesmo tem com a própria sogra. Mas, caso contrário, esse também é um exemplo de analfabetismo funcional.
Porém, há também o caso das múltiplas interpretações de um texto. Há textos que permitem diversas interpretações. O autor do texto, quando faz a publicação, perde o controle sobre ele. Cada um vai interpretar de uma maneira diferente. Lembro-me que certa vez o escritor Moacyr Scliar contou que o seu filho lhe deu uma prova para responder sobre interpretação de texto. No caso, a prova apresentava questões objetivas sobre um texto do próprio Scliar e, adivinhem: ele errou as respostas sobre o seu próprio texto. Quer dizer, será que ele que não soube interpretar o próprio texto ou foi quem elaborou a prova? Acho que a resposta é demasiado óbvia, e demonstra a ineficácia da maioria das questões de interpretações cobradas em vestibulares e concursos públicos.
Entretanto, como ressaltei anteriormente, quando o texto é publicado ele pode ser interpretado de diversas maneiras. Meu professor e orientador no mestrado, Antonio Hohlfeldt, certa vez nos disse algo que chega a ser surpreendente de tão óbvio: a mensagem final do texto fica na interpretação no receptor (quem o lê) e não na intenção do que quis dizer o autor. Óbvio, pois a não ser que o autor lhe explique o sentido do texto, ele ficará pensando que o certo é a interpretação dele! Chega a ser complexo de tão simples...
Por fim, quero deixar mais uma dica de leitura para o pessoal. Carta ao pai, de Franz Kafka. É um livrinho de 100 páginas onde o escritor húngaro escreve uma carta monumental ao seu pai, contando todos os danos mentais que a tirania do velho lhe causou. Esse livro poderia ser transcrito e enviado para alguns pais que conheço. Não o meu, obviamente, pois, como já disse, meu pai sempre me deu apoio para tudo. Pais excessivamente tirânicos também deveriam ler esse livro, para oxigenar a mente atrofiada.
* Texto publicado em A Tribuna Regional.

3 Comentários:

  • Porra alemao! Só uma correção, o Kafka era tcheco, não era húngaro.

    Por Blogger Zaratustra, às 29 de abril de 2011 às 11:11  

  • porra alemão. eh vero. pior q vai sai errado no jornal..auhauha

    Por Blogger Eduardo, às 29 de abril de 2011 às 13:53  

  • concordando em parte com o que dizes, quando elaborava provas de interpretação de textos, considerava corretas todas as respostas que tinham relação com os mesmos; observava a correção gramatical, ortografia, etc...só estavam erradas respostas que não tinham nada a ver com o texto. Isto é dar ao leitor o direito de interpretar o texto como q
    entender; o duro é quando não entendiam nada....aí entram os analfabetos funcionais.

    Por Blogger Lorení , às 3 de maio de 2011 às 15:30  

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