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domingo, 3 de outubro de 2010

Bons tempos

Nunca fui muito adepto da expressão “bons tempos”, mas hoje, quando fui votar, não me contive e murmurei “bons tempos...” acompanhado de um suspiro que veio do fundo da alma. No entanto, minha nostalgia não tinha nada a ver com política. Suspirei porque lembrei do tempo em que era magro. E lembrei do tempo em que era magro, porque minha seção foi exatamente na mesma sala onde eu estudei na 8ª série. O ano era 1995 e eu tinha 14 anos. E era magro. Caso existisse celular com filmadora e o caralho a quatro acho que minha turma inteira seria formada por celebridades, e os professores também seriam famosos pelas crises causadas pelo nosso comportamento, digamos, inconveniente (!?).
Ali, em uma seção eleitoral, decidindo o futuro do Brasil, lembrei-me de uma vez em que estava sentado mais ou menos no mesmo lugar onde estava localizada a urna, e uma guria da outra turma apareceu para pedir não sei o quê, ou para falar com alguém. A professora simplesmente não via a guria ali, parada, feito uma mula, diante da porta aberta. Não resisti e gritei: “não tem pão com banha!”. Já outra vez, sentado ali pelo fundo, tinha levado umas bolinhas daquele joguinho “pega nozes”, e distribuí pra gurizada. Um colega e eu começamos a quicar as bolinhas na mesa, e o barulho irritava uma colega nossa, que considerávamos uma das mais gostosinhas da turma. Mas, não sei por que, provavelmente pelo instinto de homem, na época eu achava que incomodar as gurias agradava. Sei lá, era a única forma de atrair a atenção delas. E, depois de ela falar umas três vezes “ai, guris, parem com essas bolinhas”, e a gente chorar de dar risada, ela não se conteve e contou para a professora. Aliás, ela não contou, ela anunciou para a turma toda, berrando: “profe, olha esses guris, ficam quicando umas bolinhas chatas!”. E, a professora (a Roselaine, de Matemática, uma das melhores professoras que já tive, por sinal), acabou soltando essa:
- Guris, parem, senão vou pegar as bolinhas de vocês!
Quando ela se deu por conta do que tinha dito, era tarde...
Também foi ali, naquela sala, exercendo a minha OBRIGAÇÃO de cidadania, que lembrei do dia em que o Grêmio jogava contra o El Nacional, no Equador, pela primeira fase da Libertadores 95. Eu tinha aula de tarde (de Matemática, com a Roselaine, pra variar) e o jogo era justamente de tarde! Não tive dúvidas: levei um radinho. Jogo duro, 1 a 1 até os últimos minutos. Porém, quando menos esperava, pênalti pro Grêmio! Anunciei pra turma do fundão: pênalti! Pênalti! Apreensão no fundo da sala. Todo mundo volta e meia se virava: “e aí?”. “Os equatorianos ainda estão reclamando...”. Dali a pouco outro: “ta, e aí?”. “Ainda não”, eu respondia. Estava tão nervoso que, no meio da explicação da professora, quando o Arce correu pra bola e marcou, não me contive e berrei “gooool!”. A professora, sem saber ao certo o quê fazer, acabou colocando a mão na cintura, dizendo: “não acredito...”.
Também foi ali, naquela sala, que a gente tinha aula com uma professora de inglês que era A PROFESSORA, naquele sentido mesmo que você, malicioso leitorinho, está pensando. Eu, no alto dos hormônios dos 14 anos, sem ter muito no que pensar da vida, resolvi apostar um lanche com um colega meu alegando que ele não era capaz de perguntar pra professora quanto que ela cobrava a hora. Pois veja você, que mente suja a nossa. Porém, quando a acabou a aula, ele, com toda a cara de pau do mundo, se aproximou dela e perguntou: “professora, quanto a senhora cobra a hora?”. A essas alturas eu já caia por cima de uma classe, rolando de tanto rir. A professora enrugou a testa e perguntou: “aula particular?”, e ele “não”. Então, ele também saiu da sala chorando de rir... Carajo... Não sei por que a gurizada nessa fase tem um prazer quase que sexual em se colocar em risco com os professores...
No entanto, tais comportamentos repercutiam em casa. Não lembro ao certo se foi nesse ano, ou no seguinte, que meus pais resolveram ir pra praia bem na época da minha recuperação (sim, eu pegava recuperação todos os anos). Lembrei disso ao catar as fotos para esse post e encontrei uma em que estão meu irmão e minha irmã tirando onda, escorados no carro. Ao ver essa foto, fiquei me perguntando “e eu?”. Aí, lembrei: estava de castigo. Exato: meus pais foram viajar para Santa Catarina e me deixaram de castigo. Aliás, nem se trata de castigo, pois eu tinha que ir nas aulas de recuperação... Só não lembro se ficou alguém aqui comigo. Provavelmente alguma empregada. Mas não pense em maldades, vulgar leitorinho, pois meus pais nunca contrataram empregadas gostosas. Sempre velhas ou barangas. Por isso, não me identifico nada com aquela música do Tequila Baby “o quarto da empregada não tem janela e não tem nada...”. Mas hoje, fico pensando: carajo, que loucura, eles foram viajar e me deixaram sozinho, tipo o esqueceram de mim, sacam? Porra, e eu era um baita boca aberta, porque se fosse hoje (e eu e eu ainda tivesse 14 ou 15 anos) eu faria mó festa! Apesar que, tirei os atrasos dessa ocasião nas viagens que meus pais fizeram nos anos seguintes...
Enfim, nesse dia de eleição acabei sentindo saudades do tempo em que era magro, quando pesava mais ou menos uns 50 quilos, chorava de rir em sala de aula, e voava pelos campos de pelada missioneiros, driblando um, dois, três, quatro, cinco, o goleiro, e ainda tocando de calcanhar para o fundo do gol... É, têm tempos que não voltam... Ê, saudades!

7 Comentários:

  • pobress professoras, deusolibre lidar com esse diabedo...tu era um micuim de tão magro mas agora tah um abola em compensação... hahaha

    Por Blogger Carolina, às 3 de outubro de 2010 às 13:33  

  • porra alemao!

    eu lembro que em 95 eu tinha aula de manha, entao a libertadores eu vi todos os jogos. mas a final do mundial contra o ajax foi de manha e eu, adivinha, tava de recuperaçao.

    pedi pra ir no banheiro e fui assistir o jogo na sala de um pessoal que tinha levado uma mini tv. voltei depois dum tempao mas nem lembro o que a professora disse.

    Por Blogger Zaratustra, às 3 de outubro de 2010 às 14:10  

  • É, bons tempo....o grêmio ganhava libertadores e ia para Tóquio...ainda bem que tens mais de 14 anos....

    Por Blogger Silvério, às 3 de outubro de 2010 às 16:05  

  • ri horrores ashusahu, bom demais relembrar coisas boas =D e fazer parte da galera do fundão tem futuro sahuhaus... e vc ta com a mesma cara engraçada, so q "fofinho" ahsuhsau... =x

    Por Blogger Thâmara Roque, às 3 de outubro de 2010 às 18:15  

  • Ai Dudu, só tú pra lembrar disso na hora de votar! Adorei as fotos antigas!

    Por Blogger Aline, às 3 de outubro de 2010 às 18:32  

  • huhasuhausuhas... poutz... ri mt mamnolo...

    na boua... não te reconheci na 1ª foto lá... asuhashuasgha... que malandragi hein... hahaha

    e a mala da tua irmã... fazendo pose pra fotinho... que figura... vendo assim nem parece a mala que é... ahsuahsuahs...

    caraca mano... é bom lembrar mesmo... eu to volta e meia escrevendo sobre isso... só não tenho fotos porque nunca gostei mt disso... hehe

    ah, sobre a Liberta de 95 lembro dos duelos com o Palmeiras e da voadora do Dinho, no Valber, no Olímpico... aquilo sim era Libertadores... bons tempos, bons tempos...

    muito show o texto manolo...

    abraço ae!

    Por Blogger Mr. Gomelli, às 4 de outubro de 2010 às 01:04  

  • Pois é, todos éramos pelo menos uns 10 kilos mais magros... srsrsrs.. bons tempos mesmooooo
    Só teu texto me faz pensar no quanto os pais q trabalham fora são ingênuos ao pensar q os filhinhos são uns anjinhos....
    Deusulivre!!

    Por Blogger Nara Miriam, às 6 de outubro de 2010 às 07:29  

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