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sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Amor Trigêmeo


O texto a seguir foi o vencedor do Concurso Machado de Assis de Literatura, que trata-se de um concurso de contos (até duas laudas) realizado pela URI, Academia Santo-Angelense de Letras e Secretaria Municipal de Cultura.
Recebi o troféu e um prêmio especial que eu não vou dizer o que é só para deixar os leitorinhos tupiniquins curiosos (já que os tupiniquins são muito curiosos e eu gosto de deixá-los mais curiosos ainda) há umas duas semanas atrás, também não vou ficar calculando a essa hora da noite depois de um dia de trabalho e de ler um texto sobre Innes e MacLuhan em inglês, mesmo com muitas limitações na nobre língua. Mas enfim, as fotos são da solenidade e são do fotógrafo Fernando Gomes. Bom, a história que vocês lerão foi inspirada em uma história contada pela minha ex-colega, amiga e líder revolucionária, Lara Nasi. Claro que os nomes foram trocados e ela não é nenhuma das personagens envolvidas. E também mudei muito da história, que ficou completamente diferente da original, mas enfim, vamos ao texto:

Amor trigêmeo
Douglas estava numa encruzilhada. Não sabia o que fazer. Sequer sabia como tinha deixado aquela situação toda chegar a tal ponto. No início era tudo brincadeira. Começou namorando Joana, e se encantou pelo seu cabelo escuro, sua pele morena, seu sorriso fácil. Era sempre bem humorada, e desde que se conheceram no baile da formatura de seu primo, sentiu que ela era o amor de sua vida. E de fato a vida estava realmente bela, até que surgiu a Andréia e seus cabelos louros, sua pele branca, sua cara amarrada, mas tão linda quanto a de Jeniffer Lopes. E sem contar que na cama, era incomparável! Fazia realmente de tudo. Certa vez tinha se apaixonado por uma garota que não era muito favorecida pela natureza, mas que tinha o seu segredo. Todos lhe perguntavam “mas o que você viu nela?”, e ele respondia: “em 31 anos de vida já tive várias mulheres, mas nenhuma jamais fez o que ela faz”. Mas, como ele sabia que nem tudo na vida era sexo, acabou por terminar o relacionamento, menos pela feiura de sua ex-amada, e mais pela língua dela, que ele descobriu que só tinha uma utilidade...
E quando Douglas achou que tinha encontrado o amor de sua vida em Joana, acabou por conhecer Andréia em uma parada de ônibus. Viu aquele rosto lindo, aqueles olhos de brilhantina, que por arrogância ousavam não mirar-lhe os seus, e por fim, decidiu conquistá-la. Douglas era assim. Sabia conquistar as mulheres. Estava com 36 anos, mas sabia que qualquer mulher com mais de 25 estava ao seu domínio. Primeiro achava que estavam ao seu alcance, mas aos poucos descobriu que estavam mesmo é sob o seu domínio. E nessa tarde, na parada de ônibus da José do Patrocínio com a Loureiro da Silva, enquanto esperava o Caldrefião, viu Andréia. Perguntou-lhe as horas, e ela respondeu sem mirá-lo. Puxou assunto, elogiou os olhos, a roupa, a voz, e acabou pegando outro ônibus somente para acompanhá-la até o último momento. Pegou o seu número, e no outro dia marcou o primeiro, de muitos encontros. O resultado dessa brincadeira toda, é que ficou com duas namoradas. Conhecia a família de ambas, se dava bem com ambos os sogros e tinha implicância com as duas sogras. Curiosamente, as duas tinha apenas um irmão, mas o de Joana era mais novo (25 anos – ah, saudades dessa idade!) e o de Andréia mais velho (45 anos). Gostava dos dois. Enquanto o mais novo transmitia toda a juventude e vontade de conquistar o mundo com projetos mirabolantes, mas que nunca punha em prática, o mais velho passava-lhe conhecimento para optar pelo caminho mais curto para obter o sucesso no que quer que desejasse. E sabia que se quisesse obter sucesso com a Andréia, teria que largar Joana. Mas como? Ele simplesmente gostava das duas! Não imaginava ter uma, sem ter a outra. Não imaginava os cabelos louros de Andréia, sem os cabelos negros de Joana. Não imaginava o carinho e parceria de Joana, sem o ardor sexual de Andréia. Sabia que essa loucura não daria certo e que em dado momento teria que optar. Ou dedicaria todo o seu amor à meiguice de Joana, ou se entregaria de corpo e alma às orgias com Andréia. E que orgias! E que orgias!
O diabo era que sempre pensava nisso como algo para um futuro, no mínimo, distante. Levou a situação durante 8 meses. Mas sabe-se lá como, as duas resolveram exigir-lhe a presença física no mesmo horário e no mesmo dia, e ele, emocionado pela notícia que recebia, acabou confirmando os dois encontros. Foi tudo durante uma terça-feira. Primeiro foi Joana. Ligou informando que precisava vê-lo assim que saísse do escritório, que era algo simplesmente urgente e inadiável. Como ele já tinha marcado um encontro com Andréia, acabou dando uma desculpa esfarrapada, mas que foi cortada pela seguinte frase de Joana: “meu amor, eu estou grávida”. Tremendo, ele apenas balbuciou “e-e-está bem meu amor”. Pegou o telefone disposto a cancelar, não só o encontro, mas o relacionamento com Andréia. Mas essa, ao atender o telefone, disse em tom amoroso: “Meu bem! Que bom que ligou. Tenho uma coisa muito importante para lhe contar...”. Bom, o resto você já sabe. Douglas seria papai duplamente! E agora, diabos?! A qual dos encontros iria falhar! Eram 14h50. Só sairia do escritório às 18h. Passou a tarde sem conseguir pensar, enquanto seu chefe lhe pressionava e passava mais trabalho. Ele olhava para a foto de Joana, colocada do lado direito do seu computador, e dela mirava a foto de Andréia, no lado esquerdo: Ó vida! Ó inglória que lhe estava reservada! Ó desastre! E agora? Ele simplesmente não sabia o que fazer. Como explicar? Como terminar com alguma delas? Como dizer que quer ficar com as duas? Como?? Como?? Ele estava socando a mesa se questionando em voz alta, com ar de choro, quando seu chefe lhe interrompeu: “Eu te avisei desde o início. Agora pare de se lamentar e trabalhe antes que você fique sem mulher e sem emprego!”.
Quando faltavam 10 minutos para às 18h que ele percebeu: ambas marcaram o encontro para o restaurante o Mac Donalds do Praia de Belas. “Como não percebi isso antes?”, questionava-se. Sem pensar, saiu do escritório e seguiu rumo ao Praia de Belas. Lá chegando, porém, ele hesitou por um momento. Avistou uma ruiva, que estava parada na frente do prédio. Por um segundo ele esqueceu todos os seus problemas, se aproximou dela, contou até dez, e perguntou-lhe as horas...
Hoje, Douglas não sabe de onde tira tantas desculpas para dividir o seu tempo em três. Para três mulheres e três crianças.

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Outra hora eu coloco o outro texto que inscrevi no mesmo concurso, mas que não foi vencedor. Já na foto abaixo estou recebendo o troféu do secretário de cultura, Leoveral Gölzer. (É campeãããoooo!)

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