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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Bolsonaro: a transformação do Coiso no Bozo

No dia 21 de março de 1955, no pequeníssimo município de Glicério, no noroeste do estado de São Paulo, uma senhora paria o filho brasileiro do Capeta. Ao nascer, o Coiso não chorou e nem riu. Ele fez PAM PAM, afastando o pequeno polegar e o indicador de suas recém-nascidas garras. O Coiso cresceu no Brasil dos anos 1960. Ensinaram-lhe a seguir os passos de seu antepassado italiano Mussolini: o Exército era o caminho para o futuro. Para tanto, era necessário chegar ao topo da hierarquia. O Coiso pensou: essa é fácil, é só berrar alto, puxar o saco dos superiores, humilhar os que estão abaixo de mim, torturar e matar quem discorda ou questiona a farda, que chego lá. Mas ele não contava com uma pedra no seu caminho, que se chamava povo. O povo, cansado de ver gente sendo presa, humilhada e torturada injustamente e sem ter acesso à informação do que acontecia nos altos escalões do governo militar começou a perceber que alguma coisa estava errada e, então, foram para as ruas pedir o direito de eleger os seus governantes. O processo durou muitos e muitos anos e, com o nascimento da “democracia” no país, após séculos de ditaduras, o Coiso, que nunca aceitou a derrota moral da milicada ficou se remoendo por dentro. Então, ele permaneceu ali, pelo Exército, ganhando a sua graninha até que descobriu uma forma mais fácil de ganhar mais dinheiro: a política. Não hesitou e virou vereador de uma das maiores cidades do Brasil e, então, percebeu que poderia dar pulos mais altos no meio daquele monstro de milhões de cabeças não muito pensantes chamado povo. Elegeu-se deputado.
Durante 27 anos apresentou 170 projetos e só dois foram aprovados.
Não se preocupava muito com isso, afinal, estava recebendo o seu pomposo salário e tendo todas as regalias que um deputado tem, inclusive recebendo auxilio moradia tendo uma casa própria que, segundo ele, era usada para comer gente. Ainda cuspia na cara dos eleitores dizendo em entrevista que “o Congresso Nacional não serve para nada”. Mas, como bom filho do Capeta, continuava lá, ganhando o seu em Brasília. Defendeu que o Brasil fizesse uma guerra civil para matar pelo menos uns 30 mil. E se morressem uns inocentes, isso ia fazer parte da guerra. Afinal, já viu filho do Capeta ligar para a vida humana? Comparou negros a bois, não teve papas na língua para chamar alguns deles de vagabundos, bem como usou o mesmo adjetivo para xingar uma colega de legislativo: vagabunda. Disse que não contrataria mulher, se fosse empresário, porque elas engravidam. Afirmou em programa de TV que o seu sangue é diferente do sangue de um homossexual. Em outro, falou que não corre o risco de ver seus filhos namorarem uma negra porque ele os educou bem. Também disse que ser homossexual é falta de surra dos pais. E, para completar, em uma entrevista - quando já tinha se transformado em Bozo, o candidato - afirmou que o Brasil não tem dívida histórica com os negros e que os portugueses nunca pisaram na África para escraviza-los. Temos, então, o Coiso transformado em Bozo.
O Bozo adaptou-se ao espetáculo. Deu voz a muitos outros, que encontram nas redes sociais uma forma de amplificar os seus discursos fascistas. Alguns são ingênuos e o enxergam como um salvador da pátria. Outros são seus irmãos, igualmente filhos do Capeta (o Capeta não é fácil, ele gosta de sair por aí traçando mãezinhas inocentes). E outros são burros mesmo. Diversos encontram no Bozo um espelho de seu próprio caráter: também são racistas, machistas preconceituosos e criminosos, igual ao coronel Ustra, o mais sanguinário e psicopata militar brasileiro da ditadura militar, que torturou mulheres na frente dos filhos e prendeu crianças de 5 anos dizendo que elas eram comunistas (o grande ídolo do Bozo). E, uma grande parte (talvez a maioria) deles tem problemas cognitivos.
Os estudos de cognição preveem que o sujeito forma mapas mentais para interpretar as mensagens que recebe. Assim, ele precisa ter memorizado algo para decodificar os seus códigos. Um exemplo bem raso: se você perguntar para um morador de Xangai como faz para ir do ponto A ao ponto B na cidade chinesa, ele vai lhe indicar o caminho sem pestanejar. Já você, não vai ter ideia do que fazer sem a ajuda dele. Tudo porque, no cérebro desse morador de Xangai, ele tem os códigos necessários para decodificar tal mensagem. Simples, não? No caso dos eleitores do Bozo, a grande maioria, nunca leu nada sobre a escravidão no Brasil e no mundo, nunca pegou um livro sobre a Segunda Guerra Mundial, nunca leu nenhum romance crítico sobre a sociedade (como 1984, Revolução dos Bichos, O homem invisível, Cem anos de solidão, Nada de novo no front, Cale a boca jornalista, Incidente em Antares e muitos outros). Então, eles não têm a capacidade cognitiva para associar o Bozo com o fascismo, com o nazismo e com todos os regimes autoritaristas e opressores que existiram até hoje, inclusive os de esquerda. Pois assim como o nazismo e o fascismo foram de direita, o comunismo de Castro e a ditadura de Mao Tse Tung são igualmente abomináveis. Inclusive, creio que nem o Bozo tem aparato cognitivo para interpretar isso.
Pois o Coiso, transformado em Bozo, tornou-se o palhaço do espetáculo. As massas estão adorando. Principalmente a classe média-alta masculina, branca e com curso superior que partilha da lei de darwinismo social: as coisas são como são porque tem que ser assim. A lei do mais forte. Quem pode, pode. Quem não pode, se contente com o que tem e não atrapalhe os “cidadãos de bem”. Que de bem não tem nada, pois são representados pelo filho do Capeta. Um posa de machão, mas adora pular a cerca com outros homens. Outro tem filho fora do casamento que não assumiu. Outro bate na esposa e nos filhos. Outra é racista e ensina para o neto piadas contra negros. Outro bebe, enche a cara, cheira cocaína, mas quer um policiamento mais ostensivo (sem saber que é exatamente ele o tipo que vai para o camburão). Outro trabalhou em obras federais e reformou a própria casa “pegando” um pouco de material por dia sem ninguém saber.
Outra nasceu em berço de ouro e defende o estado mínimo, mas sempre foi sustentada pelos pais... e por ai vai...
O Bozo logo achou seus pares. Aliás, apenas caricaturas de artistas lhe apoiam: Alexandre Frota, Felipe Melo, Ronaldinho Gaúcho, Ratinho, apenas figuras públicas que não primam pela sua capacidade intelectual. São filhos da avareza cognitiva: a tendência do ser humano de buscar soluções simples para tudo. E o brasileiro é especialista nisso. Há problema com a violência? Arma-se a população. As mulheres ficam grávidas e não podem trabalhar? Não se contrata mais elas ( elas que voltem para a cozinha). Os negros estão reclamando que seus antepassados foram sequestrados em massa da África para fazer trabalho escravo em outros continentes? Eles que voltem para lá. E assim por diante. Essa é a mentalidade da massa espectadora e seguidora do Bozo, o Coiso ou, simplesmente, o Filho do Capeta.

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