Devaneios copanianos
Há várias coisas a se considerar sobre o título francês e a Copa de 2018. Portanto, vou por partes.
Primeiro, sobre a final. O árbitro foi decisivo. E ficou provado que, mesmo com o árbitro de vídeo, o homem do apito pode bagunçar com uma final de Copa do Mundo. A Croácia dominava o jogo, quando ele marcou uma falta inexistente próximo à área. Da cobrança, a França abriu o placar. A Croácia correu muito atrás para empatar o jogo. Então, com 1 a 1 no placar, numa cobrança de escanteio o árbitro cedeu à choradeira dos franceses e foi ver o lance no vídeo. Um lance rapidíssimo. E aí, concordo com o comentarista da Sportv: o lance foi muito rápido e a bola bateu no braço do jogador croata por acidente. Vendo o lance em câmera lenta, fica fácil julgar. Pênalti duvidoso, marcado com a ajuda do vídeo. Foi demais para o já cansado time croata, que seguiu dominando até levar o 3 a1. Depois disso, a maionese desandou e prevaleceu a eficiência do bom time francês. Além disso, no final do primeiro tempo, quando a Croácia ainda tinha possibilidades de lutar por algo, o árbitro deu apenas 3 minutos de acréscimo, sendo esse somente o tempo de paralisação para ele ver o lance do pênalti no vídeo, ou seja, não descontou nenhum segundo da cera que os franceses já começavam a fazer.
Segundo, eu diria que a Bélgica não ter levado esse mundial foi praticamente tão injusto quanto o Brasil ter voltado para casa sem a taça em 1982. Foi disparado o futebol mais bonito, mais ofensivo, com uma equipe com mais destaques individuais e alternativas. E, então, chego ao antijogo francês. Na semifinal, a Bélgica jogava melhor e a França abriu o placar no início do segundo tempo numa cobrança de escanteio. A Bélgica teria 40 minutos para buscar o empate. Mas não teve jogo. Os franceses se jogavam no chão (ao melhor estilo Neymar), ninguém se apresentava para cobrar falta ou lateral e, assim, foram matando o jogo e, claro, contaram com a complacência da arbitragem que deu 6 minutos de acréscimo, sendo que não houve jogo nesses 6 minutos, pois os franceses foram comendo segundo por segundo se atirando, simulando, demorando para cobrar qualquer tipo de bola parada. Ou seja, é impossível qualquer time superar essa “malandragem” que vive o seu auge nesse início de século XXI, pois hoje em dia qualquer jogo de qualquer campeonato conta com isso: o time faz 1 a 0 e não deixa mais ter jogo e os árbitros não dão os acréscimos que seriam justos ou necessários – e tampouco punem os malandros com cartão. Se a França tivesse deixado a bola rolar e, mesmo que vencesse na retranca, eu consideraria, sim, justa a classificação. Mas com o antijogo, fica impossível simpatizar com um time desses. Para mim, a melhor seleção da Copa foi, sem sombras de dúvidas, a Bélgica.
Terceiro, apesar dos pesares, a França fez campanha de campeão: seis vitórias (todas no tempo normal) e apenas um empate, na última rodada da fase de grupos num jogo de compadre contra a Dinamarca (pois o empate era bom para os dois). Aliás, é a cara dessa França jogar pelo resultado, custe o que custar e foda-se o resto. Não deu show e fez seus dois grandes jogos contra sul-americanos: 4 a 3 na Argentina e 2 a 0 no Uruguai. Portanto, mesmo sem ter jogado o melhor futebol e ter abusado do antijogo, é campeão digno de tal título, diferentemente da Croácia, que venceu todas na fase de grupos, mas chegou à final com duas vitórias nos pênaltis contra seleções bem fraquinhas: Dinamarca e Rússia.
Quarto, a França ingressa no grupo dos gigantes do futebol mundial, deixando para trás os também campeões mundiais Espanha, Uruguai e Inglaterra, além da três vezes vice, Holanda. Agora, o grupo de gigantes conta com Brasil, Alemanha, Itália, Argentina e França.
Quinto, reformulei a minha lista de melhores campeões mundiais que vi jogar. O ranking, agora conta com o Brasil de 2002 em primeiro, a Alemanha de 2014 em segundo, Espanha de 2010 em terceiro, Brasil de 1994 em quarto, França de 1998 em quinto, Alemanha de 1990 em sexto, França de 2018 em sétimo e Itália de 2006 em oitavo. Nesses anos todos, duas vezes o melhor não foi o campeão: em 2006 a França de Zidane era muito melhor do que a Itália (e fez uma copa bem melhor) e, nesse ano, a Bélgica foi melhor do que a França, apesar de ter perdido no confronto direto, numa final antecipada, conforme os motivos apontados anteriormente.
E a América do Sul? Brasil e Argentina precisam colocar as suas revelações em campo ao invés de seguir convocando apenas jogadores que atuam na Europa. Se os dois continuaram assim, daqui para frente a Copa do Mundo vai seguir a lógica do Mundial de Clubes: só levantaremos o caneco esporadicamente, uma vez a cada 10 copas, e olha lá. Afinal, numa competição em que todos se conhecem e jogam nos mesmos times europeus, ter um elemento surpresa pode ser o diferencial. Falta ousadia para um futebol que sempre se orgulhou por ser ousado, mas que anda mais burocrático que o mais chato dos campeões europeus...
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