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domingo, 15 de julho de 2018

Devaneios copanianos

A Copa do Mundo 2018 acabou há poucos minutos. Às vezes acho que escrever esses textos não faz sentido, mas como quando eu quero saber se algum time ou seleção realmente foi bom eu vou procurar nos jornais e revistas da época o que escreviam sobre essas equipes ou pergunto para os mais velhos que viram esses times jogar (especialmente meu pai), optei por escrevê-lo, finalizando a série Mundial da Rússia nesse espaço. Ou seja, escrevo para esclarecer algumas coisas para o caso de alguém, por acaso ou acidente, daqui há décadas ou séculos, estiver pesquisando sobre o futebol das duas primeiras décadas do século XXI e cair nessa página. Além do mais, mesmo com as novas gerações podendo ver vídeos e assistir aos jogos antigos na íntegra, falam tanta merda sobre o passado na imprensa esportiva contemporânea, que penso que o testemunho do momento e das fontes que viveram cada período ainda é o mais confiável.
Há várias coisas a se considerar sobre o título francês e a Copa de 2018. Portanto, vou por partes.
Primeiro, sobre a final. O árbitro foi decisivo. E ficou provado que, mesmo com o árbitro de vídeo, o homem do apito pode bagunçar com uma final de Copa do Mundo. A Croácia dominava o jogo, quando ele marcou uma falta inexistente próximo à área. Da cobrança, a França abriu o placar. A Croácia correu muito atrás para empatar o jogo. Então, com 1 a 1 no placar, numa cobrança de escanteio o árbitro cedeu à choradeira dos franceses e foi ver o lance no vídeo. Um lance rapidíssimo. E aí, concordo com o comentarista da Sportv: o lance foi muito rápido e a bola bateu no braço do jogador croata por acidente. Vendo o lance em câmera lenta, fica fácil julgar. Pênalti duvidoso, marcado com a ajuda do vídeo. Foi demais para o já cansado time croata, que seguiu dominando até levar o 3 a1. Depois disso, a maionese desandou e prevaleceu a eficiência do bom time francês. Além disso, no final do primeiro tempo, quando a Croácia ainda tinha possibilidades de lutar por algo, o árbitro deu apenas 3 minutos de acréscimo, sendo esse somente o tempo de paralisação para ele ver o lance do pênalti no vídeo, ou seja, não descontou nenhum segundo da cera que os franceses já começavam a fazer.
Segundo, eu diria que a Bélgica não ter levado esse mundial foi praticamente tão injusto quanto o Brasil ter voltado para casa sem a taça em 1982. Foi disparado o futebol mais bonito, mais ofensivo, com uma equipe com mais destaques individuais e alternativas. E, então, chego ao antijogo francês. Na semifinal, a Bélgica jogava melhor e a França abriu o placar no início do segundo tempo numa cobrança de escanteio. A Bélgica teria 40 minutos para buscar o empate. Mas não teve jogo. Os franceses se jogavam no chão (ao melhor estilo Neymar), ninguém se apresentava para cobrar falta ou lateral e, assim, foram matando o jogo e, claro, contaram com a complacência da arbitragem que deu 6 minutos de acréscimo, sendo que não houve jogo nesses 6 minutos, pois os franceses foram comendo segundo por segundo se atirando, simulando, demorando para cobrar qualquer tipo de bola parada. Ou seja, é impossível qualquer time superar essa “malandragem” que vive o seu auge nesse início de século XXI, pois hoje em dia qualquer jogo de qualquer campeonato conta com isso: o time faz 1 a 0 e não deixa mais ter jogo e os árbitros não dão os acréscimos que seriam justos ou necessários – e tampouco punem os malandros com cartão. Se a França tivesse deixado a bola rolar e, mesmo que vencesse na retranca, eu consideraria, sim, justa a classificação. Mas com o antijogo, fica impossível simpatizar com um time desses. Para mim, a melhor seleção da Copa foi, sem sombras de dúvidas, a Bélgica.
Terceiro, apesar dos pesares, a França fez campanha de campeão: seis vitórias (todas no tempo normal) e apenas um empate, na última rodada da fase de grupos num jogo de compadre contra a Dinamarca (pois o empate era bom para os dois). Aliás, é a cara dessa França jogar pelo resultado, custe o que custar e foda-se o resto. Não deu show e fez seus dois grandes jogos contra sul-americanos: 4 a 3 na Argentina e 2 a 0 no Uruguai. Portanto, mesmo sem ter jogado o melhor futebol e ter abusado do antijogo, é campeão digno de tal título, diferentemente da Croácia, que venceu todas na fase de grupos, mas chegou à final com duas vitórias nos pênaltis contra seleções bem fraquinhas: Dinamarca e Rússia.
Quarto, a França ingressa no grupo dos gigantes do futebol mundial, deixando para trás os também campeões mundiais Espanha, Uruguai e Inglaterra, além da três vezes vice, Holanda. Agora, o grupo de gigantes conta com Brasil, Alemanha, Itália, Argentina e França.
Quinto, reformulei a minha lista de melhores campeões mundiais que vi jogar. O ranking, agora conta com o Brasil de 2002 em primeiro, a Alemanha de 2014 em segundo, Espanha de 2010 em terceiro, Brasil de 1994 em quarto, França de 1998 em quinto, Alemanha de 1990 em sexto, França de 2018 em sétimo e Itália de 2006 em oitavo. Nesses anos todos, duas vezes o melhor não foi o campeão: em 2006 a França de Zidane era muito melhor do que a Itália (e fez uma copa bem melhor) e, nesse ano, a Bélgica foi melhor do que a França, apesar de ter perdido no confronto direto, numa final antecipada, conforme os motivos apontados anteriormente.
E a América do Sul? Brasil e Argentina precisam colocar as suas revelações em campo ao invés de seguir convocando apenas jogadores que atuam na Europa. Se os dois continuaram assim, daqui para frente a Copa do Mundo vai seguir a lógica do Mundial de Clubes: só levantaremos o caneco esporadicamente, uma vez a cada 10 copas, e olha lá. Afinal, numa competição em que todos se conhecem e jogam nos mesmos times europeus, ter um elemento surpresa pode ser o diferencial. Falta ousadia para um futebol que sempre se orgulhou por ser ousado, mas que anda mais burocrático que o mais chato dos campeões europeus...

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