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quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Cotidiano nova-iorquino

Hoje completo 2 meses e cinco dias em New York. Depois de aproximadamente 20 dias aqui, comecei a ter uma rotina, com aulas, horários, hora pra levantar, etc. Como alguns desses compromissos vão terminar em breve e algumas coisas também vão mudar, resolvi escrever sobre alguns tópicos agora, antes que simplesmente eles se percam na minha massa cinzenta para nunca mais voltar...
Comecemos pelo apartamento onde moro. Minha reserva de aluguel termina final do mês e, a partir de novembro, vou morar em outro lugar - provavelmente continuarei no Harlem. As pessoas que moram aqui são tranquilas e tenho tudo no quarto: TV a cabo, internet, micro-ondas, guarda-roupas e frigobar. Porém, há duas coisas que me estão me marcando na minha passagem por esse lugar.
Primeiro, o banheiro. É engraçado, mas enquanto estou escrevendo essas linhas estou apertado e quero ir ao banheiro, entretanto, tem alguém tomando banho lá. Isso é rotina. Toda a vez que começo a pensar em ir no banheiro alguém vai lá e se tranca. Pode ser de manhã, de tarde, de noite ou de madrugada. Uma vez acordei naquele estado lastimável de vontade de ir no banheiro por volta das cinco e meia da manhã e, adivinhem? Tinha gente tomando banho as cinco e meia da manhã! E isso que moram aqui apenas quatro pessoas (eu e mais três e um gato). Enfim, se chego apertado da rua, assim que fecho a porta do apartamento ouço a porta do banheiro sendo trancada por alguém. Se minha barriga começa a se remexer anunciando o que está por vir, quando penso em me levantar da cama para ir ao banheiro, novamente apenas ouço o "clic" de porta fechando... É incrível!
A segunda coisa marcante é o maldito gato do russo. Ele parece um ser invisível que me segue para de repente reaparecer e me dar um susto. Às vezes vou ao banheiro e quando me preparo para urinar, olho para o lado e o maldito gato está lá, parado, me olhando. Vou na cozinha fazer café, assobiando Carnaval em Nova York, tendo a certeza de que estou 100% sozinho quando, de repente, vejo aquele par de olhos me observando de cima da janela. Esses dias, de madrugada, apenas fui ao banheiro e deixei a porta do meu quarto aberta. Voltei tranquilamente e quando me preparei para deitar o bicho estava em cima da minha cama! Inacreditável. E hoje aconteceu a cena mais bizarra. Eu estava sentado no sofá da sala, tomando café, quando o outro cara que mora aqui chegou. Há pouco havia visto o maldito gato zanzando pelo Ap. O cara entrou e foi para o seu quarto. Um minuto depois bateram na porta, e adivinhem quem era? O gato! Sim, isso mesmo, um vizinho bateu na porta e perguntou se o gato era meu! E o bicho estava ali, parado na frente da porta, miando! Unbeliveble!
Bom, outra coisa que está para terminar (tenho mais uns 25 dias) é o curso de inglês que estou fazendo no centro.
Em primeiro lugar, todo o dia passo na frente do Empire State. No início achava maneiro, agora tento desviar por outra rua. Principalmente quando estou atrasado. Simplesmente porque a turistada ocupa toda a calçada. São dezenas ou centenas de pessoas com caras de paspalhas olhando para cima, nem aí pra você. Então, é uma briga para passar por ali dando cotovelada para tudo que é lado. Às vezes até algum turista perdido vem me pedir informação... tu vês!
Sobre a aula, bom, a turma é totalmente eclética. Provavelmente eu escreva novamente mais alguma coisa sobre o curso, mas duas coisas que certamente não vou esquecer vai ser uma colega minha curiosa e o professor.
A colega é da Estônia e ela trabalha num bar com um brasileiro. Ela não admitiu, mas creio que acho que rola alguma coisa entre os dois. Primeiro ela queria saber como se falava "sweet" em português. Eu disse "doce" e ela "No! I mean, when someone is sweet...". Então comecei a falar outros adjetivos, até que acertei: gostosa. Ou seja, o brasileiro havia chamado ela de gostosa. Então, toda a manhã, ela chega do meu lado e fala alguma palavra que o brasileiro falou pra ela. Estou eu lá, concentrado na aula, e ela chega e fala "delícia" e se mata rindo. No outro dia "popozuda". No outro "maravilhosa". Depois "poderosa", e assim por diante. Eu me estouro rindo e penso "que brasileiro filho da puta".
E sobre o professor, acho que posso fazer uma avaliação melhor quando terminar o curso. No início eu gostava do método dele, mas agora, talvez por ter aula todo o dia, acabei cansando. Porém, o que mais irrita, é que ele é muito preconceituoso e conservador (provavelmente um tradicional Republicano). Até achei legal o jeito disciplinador dele, de não deixar os alunos usarem o celular nas suas aulas, de bronquear com quem chega atrasado ou atrapalha a aula com barulho ou conversando com outro na própria língua, etc. Mas, enquanto ensina inglês, ele tenta impor algumas ideias absolutamente ridículas. Resumindo, a visão que ele passa é de que se você nasceu no Japão ou na China você não consegue expressar seus sentimentos (às vezes os japoneses balançam a cabeça negativamente, reprovando as ideias dele), se você nasceu no Brasil você é irresponsável, se você nasceu na Colômbia você só quer sexo, se você nasceu na França você acha que é superior, se você nasceu em Cuba você saiu do seu país porque odeia Fidel Castro, etc. Você só é perfeito, na visão dele, se você nasceu nos Estados Unidos (que para ele é o único país livre de todos os males da sociedade). Ou seja, ele se prende nos estereotipos e afirma que a cultura forma a pessoa... e a partir disso ele fala muitos absurdos. Além disso, o mais patético, é quando ele tenta tratar as pessoas por status e acaba tratando todo o casado como alguém que está preso e não tem liberdade pra nada, todo o solteiro como se estivesse procurando um casamento ou sexo, todo a divorciada como alguém que não soube cuidar do seu relacionamento e que agora está desesperada atrás de alguém, todo o estrangeiro que está aqui só pra estudar como alguém descompromissado, todo o que trabalha como alguém que quer enriquecer e só pensa em dinheiro, etc... Às vezes respiro fundo para não discutir com o cara, mas me seguro, pois ele é aquele tipo de professor que, se você questiona, depois ele fica pegando no seu pé (digo isso porque já aconteceu esse tipo de coisa com outros, principalmente brasileiro - e com isso ele pegou nojo dos brasileiros, pois se você chega cinco minutos atrasado ele pega no seu pé, enquanto que se alguém de outra nacionalidade chega 40 minutos atrasado ele não fala nada).
Então, como é algo temporário, simplesmente tento me concentrar na parte gramatical e linguística do negócio. O lado bom de ter um professor assim é que você se da conta de que entende perfeitamente o que ele fala, o que quer dizer que você está, pelo menos, aprendendo a língua... Às vezes fico imaginando a minha irmã tendo aulas com ele...
Bom, fora isso, pelo menos a turma é muito maneira e tem cada figura que merece um texto a parte...
Well, vou ficar off pelo menos por três dias, pois amanhã começa o curso de Jornalismo em Zona de Risco na Columbia University, porém, na "matrícula" você se compromete a não contar o que acontecerá no curso e a não postar fotos nas redes sociais, portanto, não posso prometer nada sobre o que está por vir, a não ser pessoalmente!
Hasta!

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