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quinta-feira, 26 de junho de 2025

Qual o preço de uma resposta?

* Texto publicado em A hora do Sul

A primeira vez que entrei em uma sala para dar aula foi há 14 anos, em 2011. De lá para cá, já ouvi mais de uma vez agradecimentos de alunos pelo simples fato de responder aos seus e-mails. Quando veem meu espanto, argumentam: “É que a maioria não responde.” Pois vejam só. Uma das manias mais irritantes nessa era virtual são as pessoas que deixam os outros no vácuo. Claro, não estou falando aqui de não responder às mensagens propagandísticas, tentativas de golpe, ameaças (nesse caso, quem responde é um bom advogado ou a polícia) ou aos que perguntam coisas como “Vai ter algo importante na aula hoje?”, porque esses nem eu respondo. Aliás, aviso sempre no primeiro dia de aula que me nego a responder a essa pergunta. Estou falando de e-mails ou mensagens por redes sociais (WhatsApp, Instagram etc) com conteúdo como esclarecimento de dúvidas, solicitação de contato por alguma temática específica, convite, etc. 

Já perdi as contas de quantas vezes fui deixado no vácuo, especialmente por editoras. Aliás, se eu não fosse servidor, montaria uma editora - investiria pesado nela - e pisaria firme numa real democratização da literatura. Claro que não publicaria tudo, mas pelo menos responderia aos contatos informando um “não”. Um “não” é bem melhor do que um vácuo. Já cansei de receber “nãos” na vida. Entrei no mestrado, por exemplo, apenas na terceira tentativa: até lá foram dois “nãos”, dolorosos, mas que me ajudaram a amadurecer. No doutorado, houve mais um “não” antes do ingresso. Concursos públicos, nem vou falar. O “não” faz parte da vida, mas com ele você tem uma resposta, tem uma ideia do que melhorar. O vácuo passa a impressão de que a pessoa (ou instituição) se julga superior a você, que você e sua maldita mensagem não estão à altura dela. “Humpf, quem esse idiota pensa que é para me mandar um e-mail perguntando isso? Não vou nem responder, que pergunta estúpida.” Pois eu dou meus bagos para quem não responde mensagens.

Obviamente, há o esquecimento. Já aconteceu comigo, mas sempre me esforço ao máximo para não deixar ninguém no vácuo. E, claro, você consegue identificar quando alguém, de fato, não respondeu porque está atribulado de coisas ou por ter deixado para outra hora. Mas há casos em que a não resposta é intencional - e fácil de ser percebida.

Mas afinal, qual o preço de uma simples resposta? Penso que para muita gente, esse preço parece abusivo - um verdadeiro luxo reservado aos magnânimos, aos reis e rainhas do egocentrismo, do e-mail e do WhatsApp. É como se, ao responder, perdessem um pedaço da alma, uma fração preciosa do seu tempo julgado superior. Pois é: na prática, o vácuo virou o novo “não”, só que mais covarde, mais preguiçoso e mais cheio de si. E quem sabe, no fundo, seja essa a nova etiqueta da era digital: fazer de conta que o outro nunca existiu. Pós-moderno, mas totalmente vadio. Hasta!


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