Vida e morte
Primeiro, houve toda a tragédia da boate Kiss. Creio que poucas vezes na vida chorei diante da TV, mas essa foi uma delas. Assistir ao depoimento de pais, irmãos, namorados, namoradas e amigos na tela fez com que as lágrimas saltassem de meus olhos. E tudo piorou na medida em que ficava sabendo das vítimas de Santo Ângelo e Ijuí, duas cidades em que morei durante muitos anos, e principalmente ao ver que Matheus Rebolho, irmão do meu amigo e ex-colega de cursinho pré-vestibular Clóvis Rebolho, estava entre as vítimas. Creio que, como todos, fiquei depressivo, e ainda continuo nesse estado. Porém, acho que nada pode se comparar a dor de todos os pais e irmãos das vítimas.
Quanto às conseqüências, da minha parte, só posso rezar todas as noites por todas as vítimas da tragédia e familiares. Como jornalista, creio que toda a categoria deveria exigir justiça e desvestir a carapuça da complacência, pois todos sabem que isso poderia ter acontecido em qualquer outra boate, pois 90% das casas noturnas do Estado (incluindo as de Santo Ângelo) não têm condições de receber um grande público. Frequentei durante anos (pelo menos uns 15) a noite santo-angelense e não lembro de UMA casa noturna em que houvesse uma porta para a entrada e outra para a saída. E também não lembro de UMA em que houvesse saída de emergência bem sinalizada. Portanto, não me venham com essa de que ESTÁ TUDO PERFEITO NA CIDADE MARAVILHOSA.
Exaltei-me, mas me irrita o fato de A CARA DE PAU e a corrida cega pelo lucro ficar ACIMA da vida das pessoas. Tenho uma filha e sei do que estou falando.
Bem, mas para além da boate Kiss, encontro-me em outra situação de problemas de saúde na família que me fazem parar para pensar na finitude dessa vida. Trata-se da minha tia, e segunda mãe, Eva Silvello, que até escrever esse texto estava em estado grave em Ijuí devido a um câncer. Durante boa parte da minha passagem pela universidade ela me hospedou em sua casa, além de muitas outras histórias de gratidão que devo a ela ao longo desses meus 31 anos. Nessas horas não encontramos palavras para explicar o inexplicável, pois, apesar da morte, a vida, para alguns, continua. Minha tia passou pelo que muitos pais da tragédia da boate Kiss estão passando: perdeu um filho, Gilberto Silvello, então com 33 anos, em um acidente de carro causado por um motorista embriagado. Além dele, morreram a mulher, o filho de três anos e dois sobrinhos que estavam no carro. Meu primo, Gilberto, e a mulher, Lígia, eram médicos e estavam voltando de um passeio familiar simples feito à Fonte Ijuí no dia 1° de janeiro de 1995, quando um bêbado #+%&^~@# jogou o carro em cima deles. Todos morreram.
Ao mesmo tempo em que sofro com a perda de uma pessoa tão importante na minha vida, penso que, por outro lado, ela vai encontrar o filho perdido. Como pai, sei o que isso representa.
E o futebol? Sinceramente, é o que menos importa.
O espaço acabou e não encontro palavras para encerrar esse texto, portanto, termino por aqui.
*Texto publicado no JMissões do último sábado.
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home